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ESG | Carta aberta à B3

Novas regras em ESG da B3 atentam contra os direitos humanos, a democracia e o próprio mercado financeiro

Por: Lenah Sakai | 19 set 2022 | Green Business Post | Última atualização: 01 ago 2023.

A B3, única bolsa de valores brasileira, criou novas regras ESG sobre remuneração variável e cotas para cargos da alta administração das empresas. Sua justificativa é de seguir tendências internacionais de outras bolsas e órgãos reguladores.

A proposta foi disponibilizada numa Audiência Pública para receber a visão de qualquer interessado em contribuir com opiniões a respeito. A notícia gerou repercussão entre diversos atores do ecossistema, pois as novas exigências passaram a definir e controlar a gestão empresarial.

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Participei da audiência pública, compartilhando argumentos e SOLUÇÕES. Abaixo, a cópia do texto enviado para a B3. (Ele sofreu pequenas correções e melhorias.)

As cotas estão discriminando, inferiorizando e privilegiando

Segundo a proposta da B3, a nova regra sobre cotas tem o objetivo de “aumentar a diversidade de gênero e a representatividade de grupos minorizados em cargos de alta liderança” com “ao menos uma mulher e um integrante de comunidade minorizada (pessoas pretas ou pardas, integrantes da comunidade LGBTQIA+ ou pessoas com deficiência) em seu conselho de administração ou diretoria estatutária”.

Por que a diversidade proposta está discriminando outras formas de diversidade? 

Entendemos que ao longo da história de diversos países as “mulheres”, “pessoas pretas ou pardas”, “LGBTQIA+” e “deficientes” foram perseguidos, inferiorizados e marginalizados. Mas eles não foram os únicos e focar somente em algumas diversidades é discriminar outras formas de diversidade.

Definir apenas alguns parâmetros de diversidade é excluir a individualidade de cada cidadão e cada história. Passa também a mensagem de que outras diversidades são menos importantes. 

Lembremos que a intenção de valorizar a diversidade nas empresas é de trazer para a mesma linha de largada aqueles que são menos favorecidos ao longo de sua trajetória de vida. E as formas desfavoráveis de vida são diversas. Não estão limitadas a gênero, cor/raça, orientação sexual e deficiência. Como retrata o vídeo da “Corrida por US$100 dólares”.

Corrida por US$100 dólares

No vídeo, os jovens que enfrentam menos dificuldades ao longo da vida iniciam a sua largada muito à frente daqueles que não tiveram a mesma sorte. 

O educador levanta uma série de desafios de vida que não estão relacionados com nada que aqueles indivíduos fizeram ou poderiam fazer. 

São problemas que qualquer ser humano está sujeito a enfrentar, independente da raça, gênero e outras características. 

Por isso o foco das cotas deve ser em desvantagens socioeconômicas e de deficiência física/mental. 

O educador levanta:

  1. Pessoas cujos pais se divorciaram;
  2. Pessoas que cresceram sem a figura do pai em casa;
  3. Pessoas que não tiveram acesso à educação privada;
  4. Pessoas que cresceram sem um tutor gratuito;
  5. Pessoas que já se preocuparam se a operadora do celular iria cancelar o serviço por falta de pagamento;
  6. Pessoas que tiveram que ajudar os pais com o pagamento de contas;
  7. Pessoas que precisam pagar a faculdade;
  8. Pessoas que já se preocuparam se teriam condições de pagar uma refeição.

Mas no final, todos precisam correr se quiserem ganhar o prêmio de US$100 dólares.

E aí, entra outro ponto preocupante da proposta.

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Mesmo igualando a largada, todos precisam correr para conquistar o prêmio

Ou seja, mesmo os menos favorecidos tendo a largada igualada, eles precisam adquirir as competências, experiências, habilidades e conhecimentos necessários para competir no trajeto que falta.

É isso que essa reserva de vaga está desvalorizando. Ao criar uma cota, não se está igualando a largada. Já está dando os U$$100 dólares a uma minoria que não precisará correr o trajeto final. Está passando na frente alguns menos favorecidos, sem avaliar as competências que se avalia em todos.

Está gerando privilégios a alguns grupos. E privilégio nenhum gera justiça.

Africanos combatentes da pobreza não pedem cotas

Desvendando POR QUE OS POBRES CONTINUAM POBRES após décadas de ajuda humanitária, africanos destrincham a indústria da pobreza. O documentário Poverty inc. ou Pobreza S.A. não fala de COTAS, mas de bases necessárias para a população se tornar protagonistas de sua própria história em desenvolvimento. Eles listam as seguintes condições:

  • Proteção legal contra roubos e violência;
  • Justiça nos tribunais;
  • A posse legal e titulada das terras;
  • Liberdade para começar e legalizar um negócio;
  • Conexões com áreas maiores de comércio.

Curiosamente, esse documentário não foi divulgado de forma massiva pelas mídias tradicionais. Assista o documentário para combater a indústria da pobreza aqui.

Essas cotas inferiorizam aqueles que não são inferiores

Outro ponto importantíssimo: essas cotas propostas pela B3 já pressupõem que os indivíduos alvo são incapazes de conquistar aquela vaga por mérito próprio. Ou seja, pré-definem que mulheres, negros, LGBT+ e deficientes não estão aptos para cargos mais elevados. E, com esse argumento, defendem a adoção de cotas.

Vamos refrescar a memória:

Questão de sexo, gênero, cor/raça ou orientação sexual não determinam inferioridade ou incapacidade. É preconceituoso, desrespeitoso, humilhante e racista considerá-los dessa forma. Está indo contra a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e tirando a dignidade desses perfis. 

Já as questões de deficiência física/mental e condição socioeconômica esses sim possuem desvantagens, e não é vergonha nenhuma e nem desrespeitoso de afirmar. E é por isso que as cotas foram criadas. Elas são práticas assistencialistas, ou seja, que buscam auxiliar aqueles perfis que iniciam sua jornada atrás da linha de largada dos demais.

Por não serem de natureza inferior, a cota para mulheres, negros e LGBT+ abraça a lógica do coitadismo / vitimismo, como afirmam Patthy Silva, pesquisadora de relações raciais e de educação e pós-doutoranda em sociologia pela UFRJ, e Geisiane Freitas, mestre em sociologia e pesquisadora de antifeminismo e de relações raciais. Essa forma de agir e pensar é prejudicial para o ambiente de trabalho e para todos os envolvidos.

Segundo psicóloga Andréia Calçada (IG, 2015), quem se faz de vítima libera mais hormônios do estresse e pode desenvolver males físicos e até depressão. Já aqueles que vivem ao redor dos ‘coitadinhos’ também. A convivência com pensamentos negativos prejudica a imunidade, os organismos ficam mais suscetíveis a doenças como depressão, ansiedade e problemas gastrointestinais.  

Para o perfil deficiente, que foi incorporado junto na proposta da B3, a prática do coitadismo intensifica ainda mais o capacitismo – preconceito com a capacidade de deficientes com a crença de que não possuem capacidades suficientes para realizar alguma atividade. Portadoras dessas condições relatam suas experiências na matéria do Estadão, 2020.

Meritocracia e ambiente de trabalho

E quando uma pessoa consegue uma vaga, por atributos que não envolvam uma qualificação necessária, ela não provou sua competência profissional. Com isso, qual a mensagem que passa a todos?

Passa a mensagem de que a pessoa assumiu tal vaga sem mérito, sem esforço, ou ela é de um grupo considerado inferior, incapaz. 

Essa é a mensagem que passa para outros colaboradores da empresa e quem vê de fora. Não importa a boa intenção da proposta. O que importa é o resultado almejado, e ele não favorece as empresas em questão. Gera-se mais diferenciação e inferiorização no ambiente de trabalho.

O tiro sai pela culatra. Foi criada a boa intenção, mas as regras prejudicam todo o propósito trazendo um resultado contrário ao que deveria.

Os indivíduos menos favorecidos devem conseguir apoio para sua formação profissional para então, a partir daí, conquistarem cargos pelo bom trabalho que realizam e não por cota.

“Na faculdade recebe-se a conta racial. Agora no mercado de trabalho existe a cota racial novamente. É cota sobre cota!”

Wagner Marcelo, arquiteto de inovação.

Diversidade, inclusão e pertencimento de forma lúdica:

“Diversidade é ser chamado para o baile, inclusão é ser tirado para dançar, e pertencimento é poder escolher a música.”

Citado em bate papo da Votorantim com o CORES – Comitê de Responsabilidade Social da FIESP.

Chamar para o baile é oferecer formação e qualificação para todos. Tirar para dançar é selecionar e oferecer oportunidade de trabalho. Poder escolher a música é ganhar a confiança e respeito do time. 

Já a cota não é formação e qualificação para todos. Ela é um ingresso vip que gera diferenciação ao invés de confiança e respeito do time. 

Caso recente e televisivo de preconceito devido às cotas

O caso ocorreu com uma jornalista da CNN Brasil.

Na situação, a especialista comete erros considerados ‘grosseiros’ durante a comemoração dos 200 anos de Independência do Brasil. Isso não passou despercebido pelo público, que trouxe à tona outros erros de seu passado. Ela afirmou:

  • Que a bandeira do Brasil possui a frase “Independência ou morte”;
  • Que a Independência do Brasil marcou o fim da Monarquia e o começo da República; 
  • Que o Chile e o Equador não fazem parte da América do Sul;
  • Que presos saem da cadeia para estudar. 

Errar conhecimentos considerados ‘fáceis’ de forma repetida em programa ao vivo de TV chama a atenção. 

A especialista em questão foi grandemente debochada pelos internautas, que produziram uma série de postagens maldosas.

E para agravar a situação: a profissional é uma mulher, com traços afrodescendentes, ocupando uma posição privilegiada na maior rede televisiva do mundo, participando de programas ao vivo. Ou seja, justamente o perfil de cota racial ou de gênero em um cargo mais elevado.

Essa analista pode ter alcançado sua posição por mérito próprio, mas devido ao acontecimento, agrava-se a imagem ruim das cotas.

Por possuir perfil do grupo selecionado pelas cotas, mesmo que ela não precise de cotas e ter conseguido crescer na carreira por resultados próprios, ela vai sofrer o estigma da cota.

As pessoas vão olhar para ela e duvidar de sua competência profissional e até desvalorizar seu trabalho, tudo porque essas cotas não são voltadas ao mérito.

Reação dos internautas

Para não ignorarmos a realidade, compartilho aqui alguns comentários nas redes sociais:

  • “Jornalista puxará carta Black (..) estratégia unânime entre os vitimistas” – BoJack Horseman 
  • “Pq nessa hora eu só lembro das cotas nas universidades!? Se é q ela se formou em algum curso superior…” – Marcelo Amaral
  • “Malditas cotas raciais” – Luiz Mollon
  • “Cotas não funcionam” – Anderson Vieira
  • “Existe sistema de cotas para ser jornalista neh, pq não vejo outra explicação para a tal da Basília Rodrigues trabalhar com jornalismo” – Andre Pereira
  • “Basilia Rodrigues, ‘jornalista’ da CNN, é um claro exemplo de que as COTAS RACIAIS não funcionam.” – Duda
  • “A gente já falava no que ia dar essa política de cotas…” – Fabio Luiz do Nascimento
  • “Depois dizem que a Internet deu voz aos imbecis. A tevê dá voz a quem?” – Beth Vasconcelos
  • “Falta mérito nesta senhora!!! Quanta inteligência!” – Eleide Oliveira
  • “Duplamente cotista: primeiro na Universidade, depois no emprego.” – KC Mendes

Então essas cotas que selecionam características físicas e orientação sexual afetam negativamente todos os perfis que se enquadram nela. Tanto aqueles que utilizaram da cota quanto os que não.

Todos eles serão, inevitavelmente, estigmatizados por essa reserva de vagas não alavancar pessoas pelos seus méritos e sim por características que não necessariamente as qualificam para o cargo que irão assumir.

Concluindo, essas cotas acabam prejudicando o objetivo de inclusão e representatividade. Gera-se mais preconceito e não aceitação pela falta de meritocracia. E isso é prejudicial para o ambiente de trabalho das empresas listadas na B3 e para sua imagem perante stakeholders.

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Ao invés de obediência na gestão administrativa, a cobrança deve ser por princípios e valores

É mais interessante a B3 e stakeholders cobrarem princípios e valores das organizações e não definir regras detalhadas impondo formas de agir. 

Quando se definem essas regras não é favorecida a prática pelos bons valores e intenções. 

Como é necessário cumprir a regra, preencher a cota como está sendo exigido, passa a ser apenas mais uma meta, uma obrigação, um requisito de aprovação. Ao invés de ser uma real preocupação, conscientização e política da empresa. Isso tem até nome, chama-se ‘tokenismo‘, a prática de incluir grupos minoritários em alguma área somente para não ser acusado de discriminação.

É uma tática para criar uma falsa aparência na qual se finge integrar esses perfis, os ‘tokens‘, que acabam assumindo, na verdade, um papel simbólico. Traduzindo para o português, é ‘para inglês ver‘. E o objetivo de desconstruir a discriminação não é resolvido, somente agravado.

A forma de lidar com esses problemas sociais – de representatividade, de inclusão, de diversidade dentro das organizações – formam a cultura da empresa. E, por isso, os líderes à frente dessas entidades são os reais detentores de autoridade para encabeçarem quaisquer soluções.

A subjetividade do ESG, o monopólio da B3 e o atentado à democracia

Quando se impõe formas de agir há um autoritarismo, uma falta de confiança na capacidade das empresas e necessidade de controle. Isso pode ser encarado como uma afronta à autonomia empresarial e um fator de risco para investidores. 

A B3 está exigindo explicação no caso do não cumprimento das regras. Mas e se a empresa discorda dessas regras? Essa explicação é aceita? 

“⁠O uso do Poder deve conduzir ao Respeito e não ao Medo. Quando se usa o poder com Autoridade se obtém Respeito. Quando se usa o Poder com Autoritarismo se produz o Medo”

Luciano Boca

O ESG é subjetivo

Leandro Ruschel, fundador da Liberta Investimentos comenta (Gazeta do Povo):

“Adotar critérios subjetivos para decidir pelos líderes empresariais é ineficiente e injusto.” 

Para ele, o Brasil é um país muito combinado, não há como chegar a uma conclusão sobre ser preto ou branco. Até o conceito de gênero é subjetivo atualmente. 

Mas o empresário declara que é radicalmente em prol de oportunidades equivalentes. Porém, a decisão sobre o time precisa ser do líder. Caso contrário, prejudica o ambiente de trabalho, gerando mais animosidade, divisões e conflitos.

A B3 é um monopólio

Leandro Ruschel critica também o fato da B3 ser um monopólio sem concorrentes. Para ele: 

“A bolsa não deve interferir, mas fornecer o ambiente de negociação e garantir que as regras do mercado sejam respeitadas e não delinear políticas públicas de natureza socialista.”

Ele explica que nos Estados Unidos é possível escolher o mercado de ações e não há uma única entidade controlando todo o serviço. 

“A B3 não tem concorrência e as empresas podem ficar reféns de suas decisões.”

Fernando Ulrich, economista.

Ameaça à democracia

Outro ponto muito importante levantado pelo líder da Liberta Investimentos é a ameaça à democracia do país. Ele explica que essas novas regulamentações da B3 agem como força política, que é função do povo decidir por meios de processos democráticos.

Leandro Ruschel aponta o problema de entidades corporativas deterem o poder e direito à política pública. Elas acabam não permitindo que populações possam decidir sobre regras de seu país.

Para ele, essa união de forças econômicas e políticas promovidas por grandes entidades, como Black Rock e outros gestores privados, é uma ofensiva à democracia e concentra esses poderes nas mãos de algumas poucas pessoas.

A B3 atenta contra seus próprios princípios? 

A definição de princípios ESG por apenas algumas entidades como grandes fundos de investimento e o poder de decidir como as empresas devem agir atentam contra as regras das bolsas de valores. Ao invés de ‘induzir’ mudanças e avanços no mercado financeiro, como afirma a B3, está abrindo brechas para o ilícito.

Ao decidirem como e quando práticas devem ser adotadas, as entidades reguladoras definem os movimentos de mercado de forma artificial. Essa prática se iguala às atividades ilegais de manipuladores de preços no mercado de ações, que também causam movimentos artificiais de mercado para ganhos desonestos. 

Então, mesmo não obtendo ganhos desonestos, podemos afirmar que a B3 e outras entidades podem estar infringindo princípios das bolsas de valores. Isso está possibilitando novas manipulações de mercado em prol de interesses escusos. É assustador constatar que essa brecha favorece o desenvolvimento de novas crises.

O subprime nos EUA em 2008 e a atual bolha imobiliária da Evergrande na China afetaram drasticamente a vida de bilhões de famílias. Um pequeno descuido foi tudo o que poucos criminosos precisaram para abusar das economias de muitos. Então, toda a cautela conta.

Por isso, seguir tendências globais subjetivas, discutidas de forma superficial e adotadas sem uma real maturidade de mercado é um risco desnecessário. Visto o que ocorre atualmente, com a falta de segurança energética na Europa em pleno inverno. A tão cobrada energia renovável não está dando conta das necessidades europeias. E para agravar a situação, sua dependência extrema num fornecedor não alinhado a valores democráticos, custou o fornecimento de gás. O tiro da Europa saiu pela culatra. Diferente de nosso país.

Ao manter a autonomia e diversidade de atuação, não seguindo tendências e imposições externas, o governo brasileiro pode avaliar melhor seu contexto com o olhar local, cauteloso e de forma mais aprofundada. Enfrentou a crise dos fertilizantes, segue alimentando o mundo, ao mesmo tempo que prospera acima da média global e de países de primeiro mundo.

É dessa forma que as empresas devem agir perante suas responsabilidades. Avaliar as situações de forma cuidadosa, levando em consideração suas capacidades, vulnerabilidades e as vidas envolvidas. Não, simplesmente, imitar modas e aceitar cobranças externas.

Como residentes na região da Amazônia vivem repetindo em nossas comunidades: é muita gente de fora querendo cobrar e impor soluções para problemas de uma região que nunca sequer visitaram, muito menos sabem a realidade e as dores do dia a dia.

Esperemos que a B3 perceba o movimento das empresas e investidores. A saída do Brasil para bolsas no exterior. Copiar ‘tendências’ não resolve problemas de casa.

A liberdade permite a diversidade

Ao invés de delimitar práticas iguais a todos, é muito mais rico e seguro contar com uma diversidade de práticas criadas pelas organizações. Dessa forma, se uns tomarem decisões ruins, não serão todas que afundarão no mesmo buraco. Mas todas elas podem estar alinhadas a princípios e valores comuns. 

Dessa forma, com o tempo, através do benchmark e da troca de conhecimento que ocorre entre stakeholders as melhores práticas vão sendo descobertas.  

Manter a liberdade nas decisões empresariais desenvolve muito mais os princípios acordados. Afinal, a liberdade permite a diversidade, que por sua vez, permite o pensamento inovador.

A liberdade é a base da nossa forma de vida em democracia e garantidora dos princípios ESG, e, por isso, devemos protegê-la sempre.

As organizações são um conjunto de pessoas trabalhando em prol de um objetivo em comum. Cada empresa deve ter liberdade de trabalhar e melhorar suas práticas de acordo com seus objetivos e especificidades. 

Quem deve definir a forma de agir dentro das empresas são os líderes empresariais junto a seus times. E o papel do stakeholder é fornecer feedback e cobrar por valores e princípios.

Remuneração variável

A proposta da B3 inclui “mudanças na política de remuneração variável da administração das companhias (quando houver esse tipo de remuneração), que deverão incluir indicadores de desempenho ligados a temas ou metas ESG. Caso as empresas optem por programas de remuneração variável sem indicadores ESG, precisarão explicar os fundamentos da decisão ao mercado e aos investidores.”

Assim como o tema da diversidade e inclusão são polêmicos e subjetivos, a remuneração variável da administração da companhia não é diferente. Os princípios ESG mostraram resultados desastrosos mundo afora, que se evidenciaram com a invasão na Ucrânia. Ainda não há maturidade suficiente para definir metas confiáveis. 

Com isso, mais vale prevenir do que remediar. Cada empresa deve avaliar com mais cautela os movimentos de suas atividades e evitar cair em armadilhas de mercado, como ocorreu com a Europa. 

A seguir trago sugestões de solução para os temas levantados na audiência que colaboram com a fundamentação dos argumentos apresentados.

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Sugestão de soluções em ESG

Aqui seguem respostas e sugestões para algumas questões do documento da audiência pública.

As cotas ESG

Sobre a questão 3, que pergunta se as cotas propostas deveriam ser adotadas:

Sugiro a não adoção de cotas para ocupar posições. Ao invés disso, a metodologia de contratação e avaliação de performance dos colaboradores deve conter pontuações para valorizar a inclusão de diversidades faltantes no time da empresa. Isso funciona como o igualamento da largada da corrida dos US$100 dólares.

A empresa dá pontos a mais aos menos favorecidos na vida ao mesmo tempo que valoriza aqueles perfis em minoria ou inexistentes em seus times. Isso sim agrega aos objetivos de todos, seja de inclusão social, seja dos trabalhos empresariais.

A partir dos resultados, a seleção de profissionais para cargos poderá ser realizada de forma mais quantitativa e justa.

Outra forma muito interessante de igualar a largada é a própria empresa oferecer formação a todos os interessados em trabalhar com seu time e os estudantes que finalizarem o curso poderão concorrer as vagas disponíveis.

Prazos de implementação

Na questão 5, que pergunta se os prazos de adoção de uma regra em específico estão adequados:

Não estão adequados. Ao invés de ter prazos diferentes para cada caso, todo novo trabalho que uma empresa inicia deve ter no mínimo 36 meses, para:

  • 1º ano: Definição de modelo de trabalho;
  • 2º ano: Realização de ajustes do modelo de trabalho: implementação e identificação de acertos/ erros;
  • 3° ano: Modelo de trabalho ajustado, implementado e com processos definidos;
  • 4º ano: Modelo de trabalho consolidado, com resultados para avaliar e assimilação do conhecimento gerado.

Documento específico e conteúdos ESG

Nas questões 6 e 7, que perguntam:

  • se as medicas ESG já exigidas pela B3 devem ser associadas ou não a um documento específico;
  • e se há alguma exigência ESG que poderia ser incluída ou excluída do que já é exigido na B3.

Os relatórios ESG não devem seguir nenhum documento específico que limite a decisão empresarial quanto a sua forma de agir. Há documentações padrão sendo propostas no mercado e elas já trazem exigências ESG pré-definidas, que inibem as empresas de possuir outra visão sobre o que é responsabilidade ambiental, social e em governança.

As exigências da B3 também já estão pré-definidas e limitam o progresso do tema ESG como um todo. Além disso, suas exigências ESG estão distribuídas de forma confusa, misturando todos os aspectos do tripé Ambiental, Social e Governança em 4 medidas. E faltam muitos temas ESG importantíssimas em constante discussão na comunidade.

Cada empresa possui sua visão, estratégia e cultura (forma de agir). É mais interessante um modelo aberto e colaborativo.

As exigências em ESG devem ser organizadas dentro do próprio tripé ESG (Ambiental, Social e Governança). Dentro de cada uma das três pernas de apoio abordar no máximo 7 tópicos. Ao final, ter apenas 21 tópicos para avaliar as companhias no ESG como um todo. 

Essa metodologia se chama 21 Scale e foi criada para fazer o mais difícil: simplificar análises, garantindo menor subjetividade ao quantificar pontuações de forma diferenciada. Além disso, ela adota uma licença colaborativa, que permite o desenvolvimento dos assuntos ESG pela própria comunidade de usuários.

O ESG+ utiliza dessa metodologia e explica como funciona de forma mais detalhada. Confira a seguir.

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A ferramenta ESG+

No contexto dos debates sobre a efetividade do ESG (tripé de investimentos mais responsáveis), das boas práticas exigidas e da diversidade de metodologias existentes, surge a necessidade de uma solução eficaz.

O ESG+ (ESG Plus) foi criado para desmistificar o ESG e conta com uma construção colaborativa. Para isso ela utiliza de licença colaborativa e uma metodologia inteligente que pontua, classifica e permite a gamificação.

Trabalho colaborativo

Assim como o desenvolvimento de softwares e hardwares colaborativos, a ideia é disponibilizar a aplicação ESG+ com permissões colaborativas. Dessa forma, os investimentos mais responsáveis poderão contar com a inteligência coletiva.

Para isso, a ESG+ utiliza a licença CPL – Collaborative Progress Licenseª, ou seja, ela permite a distribuição e alteração da aplicação, desde que o trabalho original seja devidamente referenciado com o seu link e o novo trabalho adote a mesma licença e permissões. Isso significa que outras pessoas podem utilizar da ESG+ e criar a suas próprias versões e melhorias. Podem também comercializar, bastando utilizar um nome diferente de outras versões existentes.

E o mais incrível é a principal lógica que faz a mágica dessa colaboração acontecer. Como as derivações adotam a mesma licença e permissões, todas as melhorias feitas em qualquer derivação poderá ser incorporada por qualquer outra derivação, incluindo à original. Isso permite que todos possam contar com a melhoria de todos. É aqui que entra o conhecimento da comunidade. A partir do compartilhamento ele vai se espalhando, acumulando e expandindo.

Porém, para que a comunidade possa colaborar, é necessário que o trabalho possua uma estrutura de fácil entendimento e pouco esforço de aprendizado. É por isso que a ESG+ foi construída sobre a metodologia 21 Scale.

Chega de índices complexos

O ESG surgiu para integrar fatores ambientais, sociais e de governança no mercado financeiro. Desde então, gestores de fundos de investimento e bolsas de valores criaram seus próprios índices ESG para avaliar e integrar investimentos em empresas mais responsáveis. A partir de então, uma das principais críticas da comunidade tem sido justamente a metodologia de avaliação.

A metodologia 21 Scale

Então, para transparecer, desmistificar e eliminar possíveis subjetividades dos índices ESG, as boas práticas foram organizadas dentro da metodologia 21 Scale. Com isso, surgiu a ferramenta ESG+, uma aplicação que simplifica e facilita a análise ESG. Por meio de uma avaliação pragmática, com pontuação simples, é possível classificar as organizações e, a partir dos resultados, oferecer um panorama dos trabalhos e oportunidades de melhoria.

Resumidamente, com a metodologia 21 Scale, a aplicação ESG+ organiza o ESG em três partes (as boas práticas ambientais, sociais e em governança), cada parte em 7 tópicos. No total são pontuados os 21 tópicos de forma padronizada. Com isso é possível obter uma pontuação final e classificar de 0 a 21 pontos o nível da organização analisada.

A partir dessa pontuação, os resultados são apresentados em um relatório lacônico. São organizados os três pilares, os 21 tópicos, as respectivas pontuações, a classificação e uma breve análise descritiva sobre os principais trabalhos e oportunidades no ESG.

E, claro, identificados os resultados, há ainda o bônus da gamificação.

Contendo a pontuação e a classificação, a organização poderá fixar materiais e manter visíveis as atuais conquistas e desafios. Dessa forma, os objetivos dos times podem fazer parte do dia a dia de forma transparente e clara. Isso auxilia num dos principais desafios de gestão, que é manter os colaboradores alinhados aos objetivos da empresa. Aliás, essa é a definição de organização: conjunto de pessoas trabalhando em prol de um objetivo em comum.

A ESG+ conta com uma gamificação interessante, produto de parceiros. 

ESG tem problema de conceito

Por fim, o último ponto, que na verdade, foi o motivador inicial para construir um ESG mais coerente aos princípios da ONU, a iniciadora do movimento. Como qualquer novo conceito, ele está sujeito a problemas e melhorias. Os conceitos abordados e defendidos no ESG não estão alinhados aos objetivos da própria ONU. A desvalorização de empresas bélicas e de segurança caminhando contra a manutenção da paz e da justiça, a adoção de cotas que inferiorizam raças e gêneros e trabalham contra a igualdade e a meritocracia, a falta de segurança energética e diversas outras boas práticas em favor à sobrevivência organizacional. Essas são algumas preocupações que podem ser resolvidas por meio de transparecer os critérios de análise acrescido da licença colaborativa.

Com as permissões de uso mais abertas é possível construir um ambiente desmistificador das boas práticas do ESG. Qualquer organização compreenderá os benefícios mútuos (empresa, sociedade e meio ambiente) para passar a impactar positivamente. O progresso colaborativo da licença permite a manutenção de construções democráticas. A diversidade de atores pode construir livremente as suas próprias aplicações, e, com isso, agregar seu repertório e visão.

O tripé de preocupações ESG+

Concluindo, podemos resumir em três principais problemas que originaram o ESG+:

  • A primeira preocupação foi conceitual. Muitas práticas ESG não estão alinhadas com os objetivos da ONU. No ESG+ isso foi corrigido.
  • A segunda preocupação foi com relação à diversidade de metodologias de avaliação e a dificuldade de analisar resultados diferentes para uma mesma empresa. Por isso, o ESG+ buscou padronizar a avaliação, com pontuações sem subjetividades (metodologia 21 scale) e apresentação de resultados de forma lacônica.
  • Já a terceira preocupação é a maior transparência para o público geral com relação aos critérios. Por meio da licença CPL – Collaborative Progress Licenseª, a abertura de discussão e derivações da aplicação ESG+ permite que todos contem com a melhoria de todos.

Deixei de mencionar algum ponto? Comente abaixo!

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4 thoughts on “ESG | Carta aberta à B3

  • Conteúdo absurdamente importante nos dias atuais!
    Parabéns pela dedicação na solução das principais lacunas da ESG, fornecendo uma maior objetividade na avaliação, facilidade de aplicação e acompanhamento de possíveis melhorias, retroalimentando todos com a experiência individual de cada organização…

    Resposta
    • Lenah Sakai

      Agradeço à comunidade pelo engajamento no assunto. Estão trazendo visões e anseios de diversos setores, cargos e perfis. Esperemos que a B3 perceba o movimento das empresas e investidores. A saída do Brasil para bolsas no exterior. Simplesmente copiar ‘tendências’ não resolve problemas de casa. Como os residentes na região da Amazônia falam: é muita gente de fora querendo resolver os problemas de uma região que nunca sequer visitaram, muito menos sabem a realidade e as dores do dia a dia.

      Resposta
  • Pedro Ricardo de Almeida Braga

    Quantas besteiras escritas, vcs não sabem o que dizem, parecem facistas

    Resposta
    • Lenah Sakai

      Puxa, você é a sabedoria em pessoa e sabe o que fala. Por isso nos traz esse comentário tão rico em conhecimento… E tudo o que difere de sua verdade é fascista. Caraca, isso que chamo de sábio.

      Resposta

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