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Ajuda humanitária está perpetuando a pobreza

Após décadas de doações, foi descoberta uma indústria que vive da pobreza alheia e tudo foi documentado. Confira.

Por: Lenah Sakai | Green Business Post | 02 mai 2023 | Google News | Youtube.

A questão da pobreza crônica de países, principalmente, no continente Africano, já é pauta internacional há bastante tempo. Políticos e celebridades patrocinam campanhas de doações há décadas, porém, a pobreza continua. O Objetivo número 1 (um) de Desenvolvimento Sustentável da ONU de Erradicação da Pobreza continua sendo um fracasso. Onde está a falha?

Enquanto alguns grupos acreditam que ONGs e organizações de ajuda são fundamentais na redução da pobreza, outros argumentam que essa ajuda pode perpetuar a miséria em vez de eliminá-la. Essa discussão é exatamente o que é explorado no provocante documentário “Pobreza S. A.” (Poverty Inc.).

Todos envolvidos com desenvolvimento sabem que não funciona, é algo podre.

Timothy Schwartz, antropólogo do Haiti.

Pobreza S. A.

O filme, lançado em 2014, é dirigido por Michael Matheson Miller e faz uma análise crítica sobre a indústria da “ajuda” global. O documentário oferece uma profunda exploração das ONGs, corporações e governos que fornecem ajuda internacional. Ele mostra como várias organizações que arrecadam bilhões de dólares por ano não necessariamente estão fazendo o bem, mas sim perpetuando a pobreza.

Com mais de 150 entrevistas filmadas em 20 países ao longo de 4 anos, Pobreza S.A. recebeu inúmeras premiações, com destaque para a categoria Melhor Documentário no FIFE (Festival international du film d’environnement). O documentário foi exibido em diversas universidades e fóruns internacionais. Ganhou o elogio de muitos críticos de cinema, bem como estudiosos em políticas de desenvolvimento. No IMDB, obteve uma pontuação alta de 7,6 e, no Rotten Tomatoes, obteve uma aprovação de 85%.

Os críticos do filme afirmam que o documentário mostra como as ações “caridosas” das ONGs realmente RETIRAM OPORTUNIDADES das pessoas que precisam de ajuda e COMO AS GRANDES EMPRESAS, ONGS E AGÊNCIAS MULTILATERAIS LUCRAM com a perpetuação, em vez da redução da pobreza global.

Os próprios africanos já identificaram o problema e até o ex-presidente Bill Clinton assume a culpa pelo fracasso de seu governo ao adotar a política do PATERNALISMO.

” A forma como ajudamos os pobres precisa mudar.”

Daniel Jean Louis, Partners World Wide. (Haiti)

A indústria da caridade ou indústria da pobreza ou indústria da ajuda

A ajuda humanitária muitas vezes cria uma COMPETIÇÃO DESLEAL com os produtores locais, ao fornecer produtos e serviços gratuitos ou a preços subsidiados, o que desestimula o desenvolvimento econômico local e perpetua a dependência.

O agricultor, a costureira, a sapataria e diversos produtores locais não conseguem desenvolver suas atividades já que ninguém irá comprar aquilo que recebem de graça (alimento, calçados, roupas etc.). Então, ao invés de gerar renda, emprego e impostos, gera-se morte de negócios locais, dependência de doações e pobreza.

Quando a ajuda humanitária se torna uma maneira de viver, temos todos um problema.

Magatte Wade, fundadora da Tiossan. (Senegal)

Consegui comprar minha primeira casa com a ajuda humanitária. A ajuda humanitária foi excelente para mim. Me ajudou imensamente. Me permitiu ter uma vida interessante: viajar, viver em boas condições, ser bem remunerado, não pagar impostos… Não poderia ser melhor. (O autor desta fala reconhece a indústria da pobreza)

Theodore Dalrymple, autor, psiquiatra, da Inglaterra, que trabalhou na ajuda humanitária na Tanzânia, Zimbábue, África do Sul e nas Ilhas Kilber.

O caso do Haiti

No Haiti, os agricultores de arroz desistiram de sua produção após os EUA inundarem o país com doações permanentes de arroz. O governo não valorizou o arroz local ao receber gratuitamente do estrangeiro. Isso acabou com a produção interna de arroz e da renda gerada a partir disso. O país empobreceu. Os haitianos dizem que preferem geração de renda ao invés de arroz gratuito.

O agricultor estado-unidense Joe Salatin, cuja fazenda se tornou referência em produção local sustentável pela National Geographics, fala que está ciente do que está acontecendo com os países africanos. Ele presenciou delegações africanas em eventos internacionais pedindo para pararem de inundar seus países com produtos gratuitos e estrangeiros. Ele afirma que a pobreza não vai acabar enquanto não houver produção local.

Não nos empolgamos mais com a ajuda externa do Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, que perpetuam nossa miséria, através de seus empréstimos. Isso nos torna escravos econômicos. É uma forma de colonizar países pobres.

John Rucyahana, bispo anglicano. (Ruanda)
Imagem do documentário Pobreza SA.

Por que os EUA doam tanto arroz de forma permanente?

Os agricultores estado-unidenses inicialmente fazem lobby para criar barreiras para produtos concorrentes estrangeiros. Depois pedem subsídios governamentais para suas produções. Isso gera excedentes nas produções subsidiadas e eles enviam como ajuda permanente e matam os produtores de outros países. Eles acabam destruindo a concorrência estrangeira bloqueada anteriormente.

Foram três grupos que apoiaram essa política fortemente. Os agricultores dos EUA, os industriais dos EUA e os ambientalistas. Os industriais queriam expandir suas operações no país e acreditaram que gerariam emprego no Haiti, mas não foi o suficiente para compensar o desemprego nas fazendas. E a conservação da natureza preservou as montanhas e o mar, sem que as famílias rurais pudessem fazer parte do processo.

Como resultado, os agricultores haitianos não tinham mais para quem vender, abandonaram suas fazendas e migraram para as cidades em busca de uma vida melhor. Eles contribuíram com o inchaço das favelas.

O Haiti precisou de muita ajuda humanitária durante os terremotos que devastaram o país. Porém, essa ajuda não cessou e gerou ainda mais pobreza.

“O problema é que o desastre natural, que durou relativamente pouco, se transformou em um desastre não natural de longa duração.”

Daniel Jean Louis, Partners World Wide. (Haiti)

Indústria da pobreza x Ajuda humanitária pontual

Então as doações que pessoas como eu e você, governos e empresas fazem para ações humanitárias permanentes estão comprando produtos de grandes empresas, pagando a intermediação de ONGs e agências multilaterais e entregando carência permanente. E, muitas vezes, com apoio de governos locais corruptos. Isso é chamado de Indústria da Pobreza e É DIFERENTE DA AJUDA HUMANITÁRIA PONTUAL.

A ajuda humanitária para algo pontual (desastres naturais, guerras, secas) deve ser feito. Uma força maior prejudicou uma comunidade pontualmente. Já ações permanentes é que estão prejudicando populações inteiras e alimentando a indústria da pobreza.

Os ricos patrocinam os pobres e os pobres ficam ressentidos com os ricos.

Daniel Jean Louis, Partners World Wide. (Haiti)

Empreendedor social, o novo nome da caridade

Empreendedores sociais, aqueles fazem ações sociais ligadas diretamente ao negócio, também estão prejudicando os mais pobres. Surgiram inúmeras empresas que fornecem produtos ou alimentos gratuitos para comunidades vulneráveis.

No documentário, eles trazem o caso de Blake Mycoskie que é muito conhecido internacionalmente. Ele criou os sapatos de pano TOMS inspirados nos da Alpargatas (empresa brasileira) e chamou a atenção com seu projeto One for One (um por um). Toda vez que alguém comprasse um sapato, ele doava outro para o mundo subdesenvolvido.

Andreas Widmer, diretor do programa de empreendedorismo da Catholic University of America, conta que premiou um pequeno filme feito pela TOMS por outra instituição. Na época, ele não conhecia a indústria da caridade. Hoje ele está convencido do grande mal que esse projeto causou nas comunidades que impactou. Além de quebrar sapateiros, as doações não tinham data para chegar. Então as populações ficavam sem ofertadores e sem saber quando teriam novos calçados.

A boa notícia é que o fundador da TOMS, após saber da lógica da indústria da pobreza, disse que mudaria sua lógica de impacto social, porém, não quis conceder entrevista ao documentário.

Caridade se tornou uma palavra feia. Então, eles se auto intitulam empreendedores sociais.

Documentário Pobreza S.A.

Casos de sobreviventes da indústria da caridade

Mas há esperança. O documentário mostra casos reais de pessoas prejudicadas pela caridade que estão conseguindo reverter a pobreza com suas iniciativas. AS DOAÇÕES ÀS APRISIONAVAM À CONDIÇÃO DE DEPENDÊNCIA. JÁ A LIBERDADE PERMITIU O DESENVOLVIMENTO.

Vamos ilustrar essa lógica com a história dos peixes Marlim e Nemo do filme “Procurando Nemo” da Pixar. O personagem Marlim é como a prática de ajuda humanitária permanente. Ele é pai de Nemo, um peixe jovem com uma nadadeira menor e mais fraca, que pode representar as populações carentes.

O peixe pai acredita na incapacidade do filho de nadar sozinho em segurança. Então, ele quer ser a muleta eterna dele, impedindo-o de se desenvolver por conta própria. Mas Nemo não quer depender de seu pai. Ele quer ter autonomia, se fortalecer e poder nadar livremente. Então eles brigam e, no fim, o pai percebe que ele precisa confiar em seu filho e dar liberdade para ele nadar sozinho. Ele percebe que seu filho é capaz de enfrentar os desafios da vida por conta própria.

Assim como Nemo, a população local conseguiu fortalecer sua dignidade por meio de suas iniciativas livres de intervenções. Veja os casos a seguir.

Caso Enersa: o sol é de todos, mas as placas solares são dos doadores

Jean-Ronel Noel e Alex Georges viram o problema de falta de iluminação nas ruas do Haiti e quiseram resolver. Por tentativa e erro, conseguiram gerar luz com a energia solar. Ninguém acreditou neles. Acharam que eram loucos. Mas eles conseguiram. Na época do documentário (2010 – 2014), eles possuiam uma empresa cheia, que empregava 62 pessoas. A maioria dos empregados vieram das favelas. Se eles não estivessem trabalhando, provavelmente eles fariam parte de gangues. Jean diz que fica contente de ver o impacto positivo que ele gera.

Trabalhar para a Enersa é ótimo. Tem feito diferença na minha vida. Consegui muitas coisa com esse trabalho. Consigo pagar as contas da minha casa, é o que me sustenta e me permite pagar a escola da minha filha. Fico feliz por fazer parte da empresa. Lá é o meu lugar. Tenho laços com a comunidade, conheço todos aqui. Eles sabem onde eu trabalho, eles aprovam e amam a Enersa. Eu disse ao diretor que quero ver meus dois filhos terem mais sucesso que eu tive. Primeiro terminar o ensino médio e depois ir para a universidade. Ficarei orgulhoso de ver os frutos de meu trabalho na Enersa. Saber que fui capaz de cuidar de meus filhos.

Frantz Derosier, técnico em iluminação na Enersa. (Haiti)

Mas nem sempre foi assim. Logo após o terremoto no Haiti, ONGs perceberam o problema de iluminação nas ruas e solicitaram doação de painéis solares estrangeiros. A empresa de Jean quase faliu. Eles passaram a competir com ONGs que forneciam painéis solares de graça. Mesmo falando com as ONGs, elas não cederam. Jean-Ronel critica a indústria da caridade e diz que a nova geração cresceu com a mentalidade de dependência. Para ele, as ONGs devem ensinar a pescar e, depois, ir embora.

Se depois de 40 anos as ONGs ainda estão aqui, isso é um problema.

Jean-Ronel Noel, co-fundador da Enersa. (Haiti)

Caso The Soft Tribe: dinheiro dos doadores, serviços dos doadores

Herman Chinery-Hesse, empreendedor de Gana, fundou o The Soft Tribe, uma empresa de desenvolvimento de software pioneira na África. Ele foi chamado de ‘Bill Gates da África’ pela grande mídia internacional e é conhecido localmente como ‘pai da tecnologia da África’, por contribuir com o desenvolvimento do setor de tecnologia no continente.

Mas mesmo com todo esse talento, as relações mercadológicas podem ser traiçoeiras. 5 empresas de Gana se juntaram para prestar serviço para o governo. Entre elas, a The Soft Tribe. Tudo caminhava bem, até que empresas europeias entraram na disputa. Uma delas conseguiu que o governo de seu país emprestasse dinheiro para o governo de Gana. Então, ela levou o contrato.

O próprio governo deu prioridade à empresa estrangeira por causa do dinheiro. E a empresa de Herman se tornou uma subcontratada da estrangeira no projeto. Eles receberam as piores partes no negócio, a mais difícil de ser executada e menos lucrativa.

Herman enxerga que o negócio não foi um ganha-ganha, mas sim, um ganha-perde. Os donos do dinheiro ganharam duas vezes. O governo deles ganhou com o empréstimo, os trabalhadores de Gana fizeram o trabalho e os estrangeiros ficaram com a maior parte do lucro. Para Herman, isso não é desenvolvimento, mas sim, banditismo.

Parece que esse jogo político se repete de várias formas, mas sempre, por meio de subsídios, empréstimos e nunca deixando os empreendedores locais crescerem.

Em sua visão, as agências internacionais de doação como o Banco Mundial, não trabalham para o desenvolvimento dos países pobres. Ele explica que eles não tem interesse que as empresas locais cresçam. Isso aumenta a arrecadação de impostos e os países não dependerão mais da ajuda internacional. E essas agências perderão a razão de existir.

Eu conheço países que se desenvolveram com base no comércio, na inovação e nos empreendimentos. Nunca ouvi falar de nenhum país que recebeu tanta ajuda humanitária e se tornou um país de primeiro mundo. Então esse não é um caminho correto. Esse caminho não nos leva a lugar nenhum.

Herman Chinery-Hesse, fundador do The Soft Tribe. (Gana)

Caso Apparent Project: os órfãos da pobreza

Em 2008, Corrigan Clay e Shelley Clay, dois estadounidenses, foram para o Haiti adotar uma criança e descobriram que a criança estava no orfanato, mas não era órfã. Sua mãe o deixou lá porque não tinha condições de criá-lo e alimentá-lo. O casal ficou chocado com o fato de que eles pagariam US$20 mil dólares para adotar uma criança que tinha mãe e essa mãe queria criá-lo.

Corrigan perguntou para essa mãe se ela criaria o filho se tivesse um emprego e renda. Era o que ela queria. Então, o casal começou a conversar com as crianças do orfanato para entender melhor suas realidades. Nesse primeiro orfanato, de 24 crianças, apenas 2 eram realmente órfãs. E isso se repetiu em outros orfanatos. A maioria das crianças nos orfanatos tinham pais.

Após 1 ano frequentando os orfanatos no Haiti, o casal Clay percebeu que o sistema que deveria cuidar de órfãos estavam criando órfãos. Para eles, essas crianças eram na verdade órfãos da pobreza.

Inconformados com esse problema, eles decidiram fazer algo a respeito para que essas crianças não precisassem ser separadas de seus pais. Com isso, surgiu a Apparent Project, uma ONG que contrata, principalmente, pais que não tem condições de sustentar seus filhos. Com o emprego, eles não precisam mais deixar seus filhos em um orfanato e perder a guarda deles.

Os trabalhos iniciaram na própria casa do casal no Haiti com a produção de artesanato. As vendas foram aumentando e junto as contratações. Os produtos da Apparent Project foram para o varejo e chegaram a ser vendidos para Disney, Walmart, Gap. Em 2011, eles conseguiram um faturamento de US$100 mil dólares só em joias.

Até o lançamento do documentário (2014), a ONG possuia 220 pessoas trabalhando. O sonho da Shelley era contratar 1000 pessoas.

Corrigan se lembra que a intenção inicial deles era de abrir um orfanato no Haiti. E eles dependeriam de eternas doações. Shelley critica o uso de imagens de crianças sujas, cheias de moscas, para atrair doações. Ela explica que isso distorce quem essas pessoas realmente são. Ela não viu pessoas desoladas, e, sim, pessoas esperançosas, prontas para mudar a situação de suas vidas.

Quando falamos de pessoas pobres, um exemplo que gosto de dar é da árvore bonsai. Pegue uma semente da árvore mais alta da floresta e plante em um vaso de flores. Você vai ter uma planta de até 1 metro de altura ou até menos do que isso. Então qual o problema da planta pequena? O problema é o vaso de flor que você usou. Se tivesse plantado em um solo de verdade, sua planta seria tão alta quanto aquela que viu na floresta. Pessoas pobres são pessoas bonsai. A sociedade não dá a base para elas. As leis, as instituições, as políticas públicas não dão a base. Então, elas ficam atrofiadas. E nós chamamos de pessoas pobres.

Mohammad Yunus, Nobel da Paz em 2006, fundador da Grameen Bank. (Bangladesh)

As pessoas que se contetam com as condições de subsistência desconectadas do mercado são pobres. Os pobres precisam de todas as conexões que possam conseguir.

Paul Collier, professor na Universidade de Oxford, autor do The Bottom Billiom. (Reino Unido)

Solução: substitua doações prejudiciais por investimentos

Segundo entrevistados do documentário, esse modelo de doações internacionais fortalecem governos autoritários e corruptos, que não permitem as bases necessárias para a população se desenvolver. A maior parte dos países da África não possui estado de direito. As pessoas não tem direito à propriedade. Com isso, não conseguem garantias para receber empréstimos para investir nos seus negócios.

Segundo o documentário, as bases necessárias para a população se tornar protagonistas de sua própria história em desenvolvimento são:

  • Proteção legal contra roubos e violência;
  • Justiça nos tribunais;
  • A posse legal e titulada das terras;
  • Liberdade para começar e legalizar um negócio;
  • Conexões com áreas maiores de comércio.

Mas graças ao Paypal e outras empresas, pelo menos, eles conseguem receber micro empréstimos, a inovação da última década, que está fazendo a diferença na vida de novos negócios na África. Plataformas como Kiva conecta micro empreendedores com qualquer pessoa no mundo disposta a emprestar R$50, por exemplo. São pequenas quantias que fazem muita diferença para uma costureira, cabelereira, vendedora, sapateiro, cozinheiro e qualquer empreendedor começando um negócio.

O gargalo está nas PME – pequenas e médias empresas. Eles precisam de valores maiores para alavancar seus negócios, quantias que amigos e parentes não tem para ajudar. E na África, eles raramente conseguem esses empréstimos com instituições financeiras. Mas se conseguirem, os juros são tão altos que matam o negócio.

É o caso de Charles Mends, de Gana. Ele tem uma empresa que faz suco de abacaxi. Ele já teve 20 empregados, mas esse é seu limite, ele não consegue empregar mais, porque é necessário comprar equipamentos, alugar um espaço maior e ele não tem dinheiro para isso. Ele afirma que ninguém empresta, porque em Gana, as pessoas não tem direito à propriedade e não tem como dar isso como garantia.

Então, as oportunidades para quem pode colaborar e trabalhar em parceria com os países em desenvolvimento é o investimento. Mas é um investimento para uma agenda própria local e não importada. Eles querem ter autonomia para criar suas oportunidades. Eles estão abertos para criar e nutrir habilidades (Eva Muraya, empreendedora e estrategista de marca, do Kenya). Mas para isso, eles precisam deixar de ser excluídos.

Veja no caso do Apparent Project. Eles conseguem fazer vendas incríveis (Disney, Gap, Walmart), mas como? Eles tem contato com grandes marcas. Os fundadores da empresa são dos EUA. Eles tem contatos por lá. Usaram esses contatos e sua língua natal para divulgar sua causa e trabalho. É dessas parcerias que mais empresas africanas precisam.

O SEGREDO para acabar com a pobreza É INVESTIR EM EMPREENDEDORES LOCAIS. Dar condições para eles desabrocharem. Somente eles irão criar algo de valor, resolver problemas locais e gerar empregos, renda, impostos, e impactar na vida do país todo.

O capitalismo empreendedor tira mais gente da pobreza que a ajuda humanitária.

BoNO, cantor da banda U2.

Por isso, toda e qualquer ajuda, prática, ação de impacto social que prejudique o empreendedor local, irá alimentar a indústria da pobreza.

E as agências internacionais e ONGs devem focar seus trabalhos em construir o estado de direito nessas populações vulneráveis, pressionando seus governos corruptos e autoritários. E eles tem poder para fazer isso. O que está faltando?

Me sinto frustrado com a ideia de que pobreza é viver com 1 ou 2 USD por dia. Essa é uma maneira muito ruim de definir o problema. Ser pobre está de alguma maneira relacionado a estar excluído de redes de produtividade e de trocas. Ou seja, não ter acesso a celular, internet, bancos, sistemas financeiros, sistemas educacionais etc.

Andreas Widmer, empreendedor em tecnologia. (Suíça)

Em 2/3 do planeta não existe o estado de direito. – Hernando de Soto, economista, autor do The Mystery of Capital. (Peru)

Dos 54 países Africanos, somente 16 são democracias. – George Ayittey, professor de economia na American University. (Gana)

Quanto mais as pessoas defendem a ajuda externa para a África, mais eles nos condenam a viver sob o julgo de ditadores, que não respeitam nossos direitos para termos acesso ao estado de direito. – Magatte Wade, fundadora da Tiossan. (Senegal)

Assista e tire suas próprias conclusões

Ao assistir “Poverty Inc.”, o público é levado a questionar o impacto real das políticas de ajuda e a repensar seu lugar no apoio aos esforços de desenvolvimento.

Para aqueles que querem assistir ao filme em português, até o momento não encontramos disponibilidade em serviços de streaming online para o Brasil, mas para compras internacionais e na linguagem original inglês, quem puder valorizar o aluguel ou a compra do DVD, basta acessar o site oficial do documentário: https://www.povertyinc.org/.

Uma página disponibilizou o filme dublado para o português neste link: https://web.facebook.com/VisEconomica/videos/439412196436782

e outra página postou na linguagem original no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=ZxgpX39C2sk

Imagens atuais dos casos: Apparent Project, Enersa, The Soft Tribe. É muito bom ver que as empresas cresceram e aumentaram seu nível de profissionalização.

Fontes: Poverty Inc. ; End Poverty ; CNN ; IMDB ; Rotten Tomatoes ; Instituto Liberal .

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Lenah Sakai

Ex-atleta, green fellow (vegetariana, minimalista), trabalhando duro para tornar as organizações, os maiores impactadores do planeta, mais responsáveis. Formada em administração pela PUC-SP, há +10 anos atua em negócios e sustentabilidade. Fundadora do Green Business Post, co-fundadora da Ignitions Inc., do movimento Cultura Empreendedora, do DIRIAS, 1ª associação de direito digital do Brasil e da ABICANN, 1ª associação das indústrias de cannabis do Brasil. Hoje é gestora de uma rede de 5 milhões de pessoas do ecossistema empreendedor nacional e internacional.

4 thoughts on “Ajuda humanitária está perpetuando a pobreza

  • CLAUDIA FONSECA DA SILVA

    É sobre isso… Como que ainda somos levados apoiar essas “ações humanitárias”… A gente desconhece a engenharia para alimentar a “Indústria da Caridade”. Que verdadeiramente se beneficia como isto? Essa matéria deve ser amplamente divulgada…

    Resposta
    • Lenah Sakai

      Sim, por isso fiz questão de escrever a respeito. É o problema número 1 da ONU e por que pouca gente ficou sabendo do documentário?

      Resposta
  • ANTONIO SASSAQUI

    MEU DEUS QUE TEXTO DE COMUNISTA E ESQUERDISTA! TIPICO DE PTISTA !

    Resposta
    • Lenah Sakai

      Meu Deus, que comentário de preconceituoso! Típico de ignorante!

      Resposta

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