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Cidade de 15 minutos: inteligente ou ‘lockdown climático’?

O conceito de cidade de 15 minutos propõe redução de mudanças climáticas e melhor qualidade de vida, mas manifestantes e críticos acusam ‘encarceramento’ e segregação social

Por: Redação | Green Business Post | 08 mar 2023 | Collaborative Progress Licenseª .

O conceito de uma cidade de 15 minutos vem ganhando força nos últimos anos, principalmente, com o apoio do Fórum Econômico Mundial. Ela é apresentada como uma forma de cidade inteligente, onde a vida seria mais sustentáveis e igualitárias. A ideia é fornecer aos cidadãos acesso a serviços essenciais a quinze minutos a pé ou de bicicleta de suas casas.

Isso inclui lugares como mercearias, escolas, parques, bibliotecas e outros serviços públicos que podem ser alcançados rapidamente sem a necessidade de transporte como carros ou ônibus. O objetivo é que as pessoas que vivem nessas áreas tenham acesso não apenas às necessidades básicas, mas também a oportunidades de interação social que possam ajudar a construir comunidades mais fortes ao longo do tempo.

No entanto, esse modelo gerou, recentemente, manifestações onde a pauta já está mais avançada. Os termos ‘gueto’ (referindo à segregação que foi feita durante o nazismo) e ‘lockdown climático’ (relembrando o ‘encarceramento’ residencial que ocorreram durante a pandemia da COVID-19) estão sendo usados para se referir à esse tipo de cidade supostamente inteligente.

Onde tudo começou – Paris, França

Na margem direita do rio Sena, costumava passar 40 mil veículos todos os dias. Eles contribuíam para a poluição atmosférica e mortes por problemas respiratórios.

Em 2016, essa via foi transformada em parque linear, livre de carros. Isso foi parte de um programa para melhorar a qualidade do ar e vida de Paris. Mais tarde, ele ficou conhecido como ‘Cidade de 15 minutos’.

Com o desenvolvimento de mais iniciativas na cidade e a percepção de melhoria no ar, bem-estar e trânsito, Paris passou a influenciar outras cidades pelo mundo. A substituição de vias automotivas se transformou em uma agenda para trazer o comércio e serviços para mais perto das residências.

Oxford, Reino Unido

Na cidade de Oxford, no Reino Unido, ocorreu uma manifestação, no mês de fevereiro. Os moradores estão criticando o novo projeto de lei da cidade de 15 minutos.

A cidade será dividida em nove distritos e a população terá um limite de dirigir apenas 100 vezes ao ano. O uso de automóveis em vias específicas que conectam os novos bairros fica proibidos e devem ser usadas vias que rodeiam a cidade ao invés disso.

Aqueles que descumprirem terão de pagar uma multa de £70, o equivalente a em torno de R$430. Não serão punidos aqueles que possuírem autorização.

Os proponentes argumentam que isso reduziria o congestionamento do tráfego e a poluição, ao mesmo tempo em que facilitaria o acesso a serviços como saúde e educação para residentes que vivem nos arredores da cidade, onde as opções de transporte são limitadas.

Eles também apontam potenciais benefícios econômicos, como o aumento do turismo devido a tempos de viagem mais curtos entre as atrações ao redor do centro da cidade, tornando-o mais atraente para as empresas que também desejam investir nas áreas locais!

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Na manifestação, o discurso da estudante Jasmin de 12 anos se destacou e viralizou, especialmente, quando ela imitou Greta Thunberg ao dirigir sua palavra ao presidente do Fórum Econômico Mundial. Segundo ela:

  • “Esses bairros de 15 minutos se transformarão em zonas de reconhecimento facial” devido a quantidade de ferramentas que serão necessárias para fazer o controle da mobilidade;
  • Se ela for na casa de um amigo em outra zona, seus pais emitiriam mais carbono ao ter que dar a volta na cidade para levá-la e buscá-la. Esse foi o mesmo argumento dos trabalhadores que atravessam diversas ‘zonas’ diariamente.
  • Ela não confia na promessa de maior segurança. Ela não se sente segura ao caminhar sozinha, pois as câmeras de segurança não impedem pessoas mal intencionadas de atacá-la.
  • Ela quer estar segura, mas não ao ponto de abrir mão de sua liberdade e privacidade.
  • Jasmin se dirige a Klaus Swab (fundador do Fórum Econômico Mundial) imitando a fala de Greta Thunberg e denuncia o roubo de seu futuro para um encarceramento escravizante de vigilância digital.
  • Para ela, a forma como está sendo conduzida toda a questão das mudanças climáticas está muito controladora e, por isso, prejudicando a vida humana.

Os oponentes à essa lei se preocupam com quanto dinheiro seria necessário investir antecipadamente antes que qualquer progresso real possa ser feito. Isso porque a situação econômica atual não favorece maiores gastos, visto a pós-pandemia, guerra na Ucrânia e a crise energética que a Europa enfrenta.

Além disso, consideram as regulamentações criadas excessivamente restritivas. Elas definem como os cidadãos devem usar os espaços públicos perto de suas casas.

Gentrificação e segregação social

Há aqueles que argumentam que a implementação desse tipo de planejamento urbano pode levar à gentrificação. Isso significa que os moradores mais ricos podem atrair serviços e comodidades de maior preço e qualidade para perto deles e, por consequência, os mais pobres teriam de se deslocar para outras regiões mais distantes.

Isso reduz a diversidade e inclusão. Dificulta a permanência das famílias de baixa renda no bairro em que já vivem. Divide a sociedade ainda mais e por regiões. E a desigualdade, que é natural, somos todos diferentes e desiguais, agora se torna artificial, imposta por lei. Dificulta ainda mais a acensão social. Gera-se uma segregação social.

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Outros se preocupam com a quantidade de terra que precisará ser ocupada por novos projetos de infraestrutura necessários para apoiar a iniciativa, levando a mais deslocamentos se for feito de forma inadequada.

Controle Social

Como já foi mencionado pela estudante Jasmin, em Oxford, uma das preocupações mais citada nas redes sociais é que a Cidade dos 15 minutos pode ser usada como uma desculpa para controlar as populações locais em nome do meio ambiente.

De acordo com um artigo publicado no Children’s Health Defense (CHD), os governos podem usar essa abordagem “verde” para limitar drasticamente o direito das pessoas à privacidade e liberdades individuais por meio da tecnologia digital avançada – incluindo vigilância e reconhecimento facial.

Para Cristian Campos, Head de Opinião da O espanhol, as cidades de 15 minutos são “uma tentativa de estabilizar os cidadãos e dividir as cidades em guetos de identidade, em fontes de crime e segregação, para facilitar o controle social.

Alguns internautas postaram vídeos de como funciona as zonas na China. A cidade possui grades que impedem que as pessoas transitem livremente. Elas somente podem adentrar após o escaneamento do rosto ou de qr-code que as identifique. E a mobilidade por lá também depende de um rankeamento social. Então se você não tiver pontos suficiente, você não pode sair da cidade ou do país.

Um verdadeiro ‘encarceramento’ e segregação social que existe atualmente e que você pode ver com seus próprios olhos na postagem do Twitter que trouxemos aqui nesta matéria. Essa realidade reforça os argumentos dos críticos, mostrando que suas preocupações não são meras imaginações.

Enquanto os proponentes veem as cidades de 15 minutos como um caminho empolgante quando se trata de melhorar os padrões de qualidade de vida em diferentes demografias, os oponentes permanecem não convencidos sobre sua viabilidade, tanto economicamente quanto socialmente falando.

É importante, então, ao discutir ideias como essas, considerar todas as perspectivas envolvidas, especialmente as mais afetadas por elas, para que possamos criar soluções que funcionem melhor para todos ao mesmo tempo. Para isso, possivelmente mais pesquisas são necessárias antes que qualquer decisão possa ser tomada de forma definitiva.

Confira algumas postagens de internautas:

Referências: Deloitte, The Conversation, Oxford Student, Caos Planejado, Childrens Health Defense, Western Standard, e-Cycle, Plus7. Imagens: Twitter.

*As opiniões veiculadas nos artigos de colunistas e membros não refletem necessariamente a opinião do GREEN BUSINESS POST.

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