Ai que climão…
Será que podemos entender que a maioria das pessoas está alheia às mudanças climáticas porque acha que clima se refere apenas a uma situação tensa, geralmente envolvendo algum tipo de vergonha alheia?
Se levarmos em conta a definição de “clima” dada pelo IPCC em 2013* o certo seria falar que rolou um “tempão” ou um “trovão”, mas nunca o climão!
Isso porque o clima não se refere às alterações atmosféricas como: velocidade do vento, precipitação, pressão, temperatura ou umidade relativa do ar, o clima é na verdade o tempo médio e envolve períodos longos, em média de 30 anos, milhares ou até milhões de anos.
Brincadeiras à parte, a verdade, pelo menos aqui no Brasil, é que as pessoas estão extremamente preocupadas com o amanhã, mas no sentido mais literal da palavra. Somos um país que mal saiu da recessão, após longos onze trimestres de quedas praticamente contínuas do Produto Interno Bruto que chegaram a 8%, com uma expectativa de recuperação de, no mínimo, três anos (só para “sair do buraco); uma taxa de desemprego de 11,3%, que atinge 12,2 milhões de pessoas; o indesejado título de 9º país mais desigual do mundo e um índice de homicídios que chega a 30 vezes a média europeia.
Só isso já seria suficiente para encerrarmos a reflexão aqui e retomarmos as lições básicas ainda não executadas pelos representantes, como investimentos estruturais para o desenvolvimento do país, e mesmo pela sociedade, como por exemplo a responsabilidade em relação aos seus resíduos, a educação financeira, a prática da ética cotidiana e a cidadania.
Mas embora estas tais mudanças climáticas sejam uma matéria complexa, que envolve fatores naturais e humanos, configurações geográficas, influência de ocorrências em diferentes localidades e o fator cronológico, há esperança.
Para além de todos os profissionais ligados a todas estas questões, pesquisadores, articuladores, empresas, startups, organizações e toda uma enorme variedade de profissionais, a minha esperança se alimenta da ação, prática, simples e corajosa da geração Z, aquela que também podemos chamar de nativos digitais ou digitals. Essa galerinha nascida por volta da virada do milênio é crítica, dinâmica, exigente, sabe o que quer, é autodidata e domina os recursos digitais. Para eles, muitos tabus que ainda levam as demais gerações a intermináveis discussões ideológicas, já ficaram para trás. Esta promissora geração tem tudo para ser revolucionária, conforme analisa o doutor em comunicação Dado Schneider, eles já nasceram em ambientes complexos, em meio a crises econômicas, à globalização, aos conflitos ideológico, e parece que tudo isso também contribuiu para que entendessem que tudo está interligado, que o futuro que queremos será construído hoje em cada escolha cotidiana, por nós e que a urgência das questões inerentes à permanência da nossa espécie na biosfera precisa de pragmatismo.
Uma pequena prova disso aconteceu no último dia 15 de março, quando cerca de 1,6 milhões de estudantes ao redor de 120 países resolveram aderir à mobilização iniciada por Greta Thunberg. Em breve, muito breve, estes jovens estarão entrando no mercado de trabalho, a perspectiva é que se tornem líderes da geração anterior. Muitos deles já estão exercitando o poder de escolher seus representantes e cada nova informação que viaja na velocidade da luz pelas redes da internet lhes expande mais a mais a consciência.
*The Physical Science Basis, Working Group I Contribution to the IPCC Fifth Assessment Report, Glossary)
Compositores: Luiz Santos / Luiz Mauricio Pragana Dos SantosLetra de Tempos Modernos © Warner/Chappell Music, Inc
Imagem: Samyaa.