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A governança que ninguém ensina, mas salvou o mundo de Hitler

Os maiores industriais do mundo se uniram em uma orquestra contra o tempo e o terror de Hitler. Eles são a prova de que os frutos da liberdade são infinitamente superiores aos de ideologias assassinas.

Por: Lenah Sakai | Green Business Post | 23 mar 2023 | Google News | Youtube.

Poucos sabem dessa história e aqueles que conhecem, se tornam grandes admiradores. Apesar de não ser ensinada nas escolas ou nas grandes mídias do Brasil, esse pequeno episódio foi o grande responsável por livrar você e mundo inteiro do nazismo assassino de Hitler e de seus aliados.

O mundo já estava em guerra. Hitler havia preparado bem o uso da força para dominar populações. Quando pouco foi feito contra sua ascensão, ele se apossou da indústria na Alemanha e produziu seu arsenal. Ninguém esperava uma batalha até o primeiro ataque na Polônia (1939) – mera semelhança com a atual invasão russa na Ucrânia?

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Foi o início da guerra mecanizada. Hitler contava com tanques apoiados pela infantaria, artilharia e apoio aéreo tático. Tudo muito bem coordenado e sincronizado. Os alemães chamavam essa nova forma de guerra de “Guerra Relâmpago”. Em apenas três semanas, a Polônia foi derrotada. Isso assustou os países da Europa. Eles perceberam que ninguém estava seguro.

Os EUA não queriam se envolver na guerra de Hitler

Do outro lado do Atlântico, nos EUA, a vida seguia mais distante da guerra. As preocupações eram locais. A população não estava mentalmente ou fisicamente preparados para lutar uma guerra. A batalha diária nos jornais era entre Franklin Roosevelt, o presidente, contra os interesses industriais e em favor de questões trabalhistas. Estavam quase todos cegos do mau que crescia e da ameaça que ela representava às democracias.

Menos Roosevelt. Ele foi astuto. Ele jogou do dois lados. Falava que os EUA não entrariam na guerra, para não criar um atrito desnecessário com a população, mas, ao mesmo tempo, e, em segredo, estava mobilizando as preparações para o combate.

A preparação secreta de Roosevelt

A economia do país ainda se recuperava da crise financeira de 1929 (grande depressão). A guerra, mesmo que necessária, só aumentariam os gastos públicos. O presidente, sabendo disso, passou a se reunir semanalmente com J. P. Morgan, a lenda do setor financeiro e de investimentos. Com sua ajuda, levantou dinheiro o suficiente para poder financiar projetos militares.

Um dos desafios de Roosevelt era a produção em massa de equipamentos bélicos para usar a quantidade como estratégia de vencer a guerra. Mas quem tinha a infraestrutura para esse trabalho em escala e no tempo necessário eram os industriais, seus inimigos políticos.

Para fazer essa ponte, Roosevelt recrutou um executivo, lenda da indústria automobilística, que era o presidente da General Motors. William Knudsen, conhecido como ‘Big Bill’, de imigrante se tornou um executivo talentoso, conhecido pela excelente gestão da produção em massa.

Big Bill deixou a presidência da GM e disse à sua chocada família que aceitou trabalhar para o governo como uma forma de “give back” (retorno) ao país que lhe deu tantas oportunidades. Seu desafio era conseguir convencer os líderes industriais, que odiavam o atual presidente, a embarcar nessa missão de guerra.

O outro desafio de Roosevelt era a aceitação da população na entrada dos EUA à guerra. Mas esse último se resolveu por si só com o ataque kamikaze (suicida) dos japoneses à Pearl Harbor, no pacífico (o Japão era aliado de Hitler).

Os problemas de produção

Os estadounidenses ficaram tão chocados com a notícia do ataque, que quando Roosevelt declarou guerra contra o Japão, a população apoiou. Foi o maior alistamento militar já realizado na história dos EUA. Mas mesmo com tamanho engajamento popular, o país estava longe de vencer a guerra.

Mesmo com o recrutamento industrial de Big Bill, o processo para a produção em massa foi sofrido. Por isso, o papel de gestão dele fez toda a diferença na orquestra desses gigantes.

A mais atrasada, por incrível que pareça, foi a Ford

Edson Ford (Ford filho) que inicialmente ficou responsável por construir apenas os motores de aeronaves, acabou por ter de construir todos os bombardeiros, pois a indústria aérea não tinha condições para a produção em massa como a Ford e sua linha de montagem. A Ford investiu de seu próprio dinheiro para criar uma empresa nova focada nas máquinas aéreas, a Willow Run.

Parecia que a produção seria como de costume dos Ford, mas os militares solicitavam modificações constantes no projeto. Era necessário adequar os aviões às demandas da guerra. Então, ficou impossível para a produção em série funcionar. Cada modificação gerava paralisações, atrasos, novas demandas de peças, custos e a primeira aeronave nunca ficava pronta.

A reputação ou a liberdade

Pierre S. du Pont das indústrias químicas concordou, mesmo contra sua vontade, em produzir munições e explosivos. Ele não suportava ser chamado de “Mercador da Morte” pelos críticos da indústria armamentista. Ele ganhou esse apelido durante a primeira guerra mundial quando sua empresa cresceu fornecendo munições aos militares. Isso o assombrava. Ele esqueceu que a manutenção da paz somente é possível com poder bélico.

Com a guerra batendo à porta do país, ele colocou o país à frente de seu medo. Se mobilizou e construiu cinquenta fábricas para atender as demandas de milhões de unidades para essa segunda guerra. Mais para frente, seu patriotismo foi testado novamente em uma competição decisiva contra Hitler.

Os tanques sem motor

A Chrysler ficou com a responsabilidade de criar veículos para enfrentar os potentes tanques alemães. Isso eram inéditos para eles e sua primeira leva foi um fracasso. O canhão somente se movia na vertical, dificultando a mira ao alvo na horizontal, que dependia do veículo se mover por inteiro. Dentre muitos detalhes, no todo, foram muito inferiores e obtiveram resultados muito ruins na primeira batalha no norte da África.

Eles teriam de construir outro tanque totalmente diferente e com muitas melhorias. Isso não foi o problema. O que dificultou foi o tamanho do motor. Ele precisava ser mais potente, mas seus engenheiros não conseguiam fazê-lo caber dentro do projeto do veículo. Como criar um motor mais potente e com tamanho reduzido?

As metas impossíveis para o homem que faz o impossível

Henry Kaizer era o homem que entregava grandes infraestruturas dentro ou antes do prazo e abaixo do orçamento. Construções gigantescas e desafiadoras o instigavam. Ele ficou responsável pela produção dos navios.

Na época, a média de produção era de um navio por ano. Ele queria fazer quinhentos e logo construiu estaleiros. Mas durante o processo encontrou dificuldades. Ele nunca havia feito navios e praticamente cada navio era uma prédio complexo de 88 andares. Mesmo com um contingente enorme de trabalhadores, a produção era lenta. Como acelerar a construção dessa máquina flutuante?

A maestria de Big Bill

Big Bill era o gestor encarregado de receber o pedido do presidente, direcionar aos industriais e fazer com que seja entregue. Ele estava tão frustrado quanto os líderes empresariais. A Ford não conseguia lançar seu primeiro bombardeiro. A segunda leva de tanques não tinham motor. E a frota de navios crescia lento demais. Como resolver?

Esses brilhantes industriais eram a solução para si mesmos, trabalhando juntos. Restava saber se eles iriam deixar de lado a competição e suas rivalidades. Surpreendentemente, foi isso que aconteceu.

Big Bill pediu para que Henry Ford ensinasse seus segredos da linha de produção a Kaizer, para que ele pudesse produzir navios mais rapidamente. Ford guiou Kaizer em sua fábrica de jipes para o exército. Mostrou o segredo da Ford: ao invés de produzir tudo em um mesmo local, ele produz separadamente as peças para depois reunir tudo em sua linha de montagem.

Kaizer adaptou isso para as gigantescas partes dos navios e passou a lançar navios a cada dois ou três dias. Por causa disso, ele se tornou o pai da indústria náutica.

Big Bill conseguiu que Henry Ford também ajudasse sua concorrente direta, a Chrysler. Ele compartilhou a engenharia de seu motor mais potente e, assim, os novos tanques ganharam vida.

Já o atraso da Ford foi o filho, Edson, que resolveu. Ele criou um centro de modificações na fábrica. O avião poderia ganhar os ajustes demandados pelos militares em um local específico, não atrapalhando a linha de montagem. Um modelo padrão já estaria em conformidade e a produção deles poderia correr solta. Com isso, os EUA pode contar com seus milhares de bombardeiros, a principal força da estratégia de guerra de Roosevelt.

Para realizar esse trabalho, Edson ocultou de seu pai que sofria de um câncer. Dessa forma, ele não geraria distrações, afinal, a corrida para vencer a guerra estava muito trabalhosa. E colocou a pátria à frente de sua própria vida. Sua morte foi um golpe forte para o pai, que sempre foi muito exigente com seu filho.

A mão de obra foi pra guerra

A maior parte das indústrias do país estavam mobilizadas para a guerra. Mas agora, um novo problema afetou todas elas: a falta de mão de obra. Com o recrutamento de jovens para a guerra, as fábricas esvaziaram. Por causa disso, foi a primeira vez que as mulheres puderam mostrar sua força de trabalho.

Dezenove milhões de mulheres trabalharam em fábricas, representando 40% da força de trabalho dos EUA. Uma das trabalhadoras da fábrica Willow Run inspirou o país. O governo criou uma campanha para levantar a moral da população e a famosa Rose, a rebitadora, a mulher fazendo muque, surgiu, representando a força da mulher no mundo de homens.

No oeste, nos estaleiros de Kaiser, uma outra cultura surgiu. Henry não via necessidade de fazer diferenciação nos trabalhos que homens e mulheres, brancos ou negros faziam. Então houve uma grande diversidade de pessoas trabalhando juntas, o que é algo extraordinário para a época.

A arma mais mortal

Mesmo após ter conseguido criar um contingente aéreo, naval e de tanques poderoso, um detalhe poderia pôr tudo a perder.

A inteligência dos aliados descobriu que Hitler estava desenvolvendo uma arma que poderia encerra a guerra instantaneamente: a bomba atômica. Pierre du Pont recebeu a missão secreta de criar a bomba de destruição em massa antes de Hitler. Se munições já assombravam ele, imagina ter de criar a arma mais mortal.

Mas ele mostrou o tamanho de seus talentos químicos. A difícil missão de criar a bomba atômica foi concluída. Com seu uso, a pesadelo da segunda guerra mundial finalmente acabou.

A governança vencedora

Definindo como valor supremo a liberdade de seu povo, os EUA contou com um contingente de talentos que ao longo de sua história desenvolveram seus estudos, trabalhos e se tornaram gigantes da industria e dos investimentos. Mesmo sob os efeitos da grande depressão, uma população despreparada e com desenvolvimento militar inferior, a gestão de Franklin Roosevelt e Big Bill Knudsen conseguiram superar a dos inimigos.

Roosevelt soube ter jogo de cintura com a população e timing para a guerra. Levantou fundos com o principal investidor do país. E escolheu o líder certo para trabalhar com os gigantes da indústria americana.

Big Bill conseguiu recrutar esses grandes empreendedores e combinar a produção de equipamentos com os talentos certos. Acompanhou o processo e ajudou a resolver os problemas que poderiam impedi-los de vencer a guerra.

Triangulou parcerias e até convenceu, principalmente, Henry Ford a dividir segredos industriais. Respeitou a liderança de Roosevelt e trabalhou para atingir os objetivos demandados. Também conseguiu fazer tudo isso fluir dentro de um prazo apertado.

A orquestra deu certo. Os talentos se uniram e multiplicaram seu poder de trabalho. Os homens se alistaram, as mulheres foram às fábricas. A indústria abdicou de sua sobrevivência para focar na do país. Segredos industriais foram abertos para uma causa maior.

Podiam ser imigrantes, brancos, negros, homens, mulheres, a diversidade gerou mais criatividade, soluções, inovações, engajamento e união. Ao contrário do autoritário, seleto, racista, superestimado e quadrado regime assassino de Hitler.

Mesmo iniciando os preparativos para a guerra muito depois dos inimigos tiranos, os aliados contaram com mais parceiros e a inabalável vontade de lutar por sua liberdade, uma necessidade humana muito maior que o alimento do ego nazista.

“A liberdade é o oxigênio da alma.”

Moche Dayan

A governança em meios mais livres contam com uma comunidade mais inovadora. Um contra exemplo da atualidade, o atual governo ditatorial chinês de Xi Jinping está tentando desenvolver sozinho suas tecnologias espaciais. Já é a segunda vez que seu foguete cai desgovernadamente. Enquanto isso, o restante dos países estão trabalhando juntos na estação espacial internacional.

E, nos EUA, seus talentos maiores criaram suas próprias empresas de exploração do cosmos. Contando com profissionais que podem divergir, suas tecnologias ultrapassaram os da própria NASA.

Esse episódio real da segunda guerra mundial reforça a liberdade como potência de organizações e governanças. Que sirva de exemplo e inspiração.

Fontes: History, Military.

*As opiniões veiculadas nos artigos de colunistas e membros não refletem necessariamente a opinião do GREEN BUSINESS POST.

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Lenah Sakai

Ex-atleta, green fellow (vegetariana, minimalista), trabalhando duro para tornar as organizações, os maiores impactadores do planeta, mais responsáveis. Formada em administração pela PUC-SP, há +10 anos atua em negócios e sustentabilidade. Fundadora do Green Business Post, co-fundadora da Ignitions Inc., do movimento Cultura Empreendedora, do DIRIAS, 1ª associação de direito digital do Brasil e da ABICANN, 1ª associação das indústrias de cannabis do Brasil. Hoje é gestora de uma rede de 5 milhões de pessoas do ecossistema empreendedor nacional e internacional.

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