Três falhas no ESG são reveladas com a invasão da Ucrânia
Somente agora, com a invasão russa ao território ucraniano, investidores ESG estão acordando para as fracas defesa dos direitos e deveres humanos que estabeleceram.
Por: Lenah Sakai | 15 abril 2022 | Collaborative Progress Licenseª
As atuais violações que o governo russo de Putin iniciou no território ucraniano desestabilizou, pela primeira vez em mais de 70 anos, a relativa paz entre o ocidente e o oriente, desde a 2ª Guerra Mundial (1939 -1945). Segundo entrevista da BBC news Brasil ao cientista político da Universidade de Chicago (EUA), Paul Post, o atual conflito já possui características do que seria o início da 3ª Guerra Mundial.
Devido aos incessantes bombardeios de Putin, nações criaram sanções econômicas sem precedentes contra o governo de Putin e mais de 80 empresas quebraram relações com a Rússia até o começo de março desse ano (Gazeta do Povo, 2022).
Paz para o desenvolvimento sustentável
“Não existe caminho para a paz, a paz é o caminho” – Mahatma Gandhi
Os países estão contra a guerra de Putin devido ao ensinamento básico que aprenderam ao longo da história. A paz permite o desenvolvimento social e econômico que as nações buscam.
Essa paz, segundo Leila Dupret, docente da Universidade Estácio de Sá:
“não é o contrário da guerra, mas a prática da não-violência para resolver conflitos, a prática do diálogo na relação entre pessoas, a postura democrática frente à vida, que pressupõe a dinâmica da cooperação planejada e o movimento constante da instalação de justiça.“
E um dos principais fatores de manutenção da paz é a busca diária por justiça. A ONU – Organização das Nações Unidas colocou o tema da paz e justiça dentro dos 17 ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os principais problemas globais.
ESG é prevenção da violência
O ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições eficazes busca soluções duradouras de conflitos e inseguranças. Sua meta onze convoca instituições nacionais relevantes, inclusive por meio da cooperação internacional, para a prevenção da violência e o combate ao terrorismo e ao crime.
Ou seja, o ESG – Environment, Social and Governance (tripé de investimentos mais responsáveis) acabou indo contra essa meta. A primeira falha do ESG está na proibição do investimento em empresas bélicas. Essas empresas são, justamente, as fornecedoras de equipamentos usados de forma estratégica para a manutenção da paz.
O Brasil é um dos principais países que lideram missões de pacificação pelo mundo, contando com muitos anos de contribuição junto à ONU. Isso não seria possível sem investimentos em equipamentos de alta qualidade, mantendo-os superiores aos de elementos hostis.
A prevenção da violência em situações de conflito somente é possível quando há poderes para se apoiar. Além do poder econômico, um dos poderes muito utilizados para persuadir a prática da não-violência é o poderio militar e bélico.
Como não houve o uso desse poderio de apoio perante ameaças nucleares de Putin, ele ficou à vontade para invadir a Ucrânia (Daily Mail, 2022). Tal ato serviu de grande alerta e líderes, países e empresas começaram a reinterpretar o setor de defesa.
ESG e a volta do investimento bélico
Agora, com a invasão da Ucrânia, lideranças estão mudando seu ponto de vista sobre os investimentos bélicos.
Um caso de mudança foi o banco sueco Skandivaviska Enskilda. Parte de seus fundos voltaram a ser autorizados a comprar ações de fabricantes de armamentos e empresas de defesa (Valor Econômico, 2022).
Além do banco, as preocupações sobre defesa e segurança nacional levaram a Suécia e a Finlândia a decidirem considerar adesão à OTAN. No entanto, esses países estão recebendo as mesmas ameaças nucleares que Putin fez à Ucrânia (DW, 2022). Será que eles irão cometer o mesmo erro de não usar poderios de prevenção perante uma nova ameaça nuclear?
Mais vale um segurança armado do que um segurando flores.
Lenah Sakai
ESG não se resume a fontes renováveis
A atual guerra entre Rússia e Ucrânia levantou outra questão a ser reconsiderada em ESG. O que é mais importante, reduzir fontes não renováveis de energia ou o nosso dever e responsabilidade na segurança energética para manter populações seguras e vivas? O alarde por fontes renováveis de energia parece ter distraído líderes quanto a gestão segura da energia em seus países.
O ideal buscado pelos princípios ESG nem sempre pode ser aplicado na prática. O atual conflito na Ucrânia ameaça a segurança energética da Europa. Por um lado, os países europeus condenam as ações do governo de Putin, mas, por outro, dependem excessivamente do gás da Rússia. Está claro que as fontes de energia renovável não são suficientes para garantir a segurança energética de muitos países. E, para piorar, a corrida por essas fontes resultou no aumento da combustão do carvão no mundo (Mises, 2021). Lembramos que o carvão é uma fonte não renovável de alta emissão de gases de efeito estufa.
Parceiros democráticos e segurança nacional
E a terceira falha no ESG está na escolha de parceiros. Estrategicamente, os parceiros e tecnologias devem ser de origem democrática. Eles devem ser de países que possuem poderes distribuídos que dificultam tomadas de decisões arbitrárias de uma minoria ditadora.
A parceria com governos e empresas de origem antidemocráticos são sempre um grande risco. Eles possuem alta imprevisibilidade e autoritarismo nas ações, constante abuso de poder e pouca ou nenhuma transparência, compliance e auditoria externa. O caso da atual invasão russa à Ucrânia é um exemplo claro. Os países não esperavam uma invasão militar e a quebra de tantos compromissos humanitários e comerciais. Foram pegos de surpresa pela imprevisibilidade da ditadura de Putin.
Recursos essenciais e o poder sobre a vida
A energia, água, alimentos e ferramentas de comunicação são recursos essenciais para a manutenção da vida e segurança de populações. Esses recursos não podem ser negociados com entidades e tecnologias de origem antidemocrática. Por serem imprevisíveis, arbitrários e não transparecerem ou honrarem direitos e deveres humanos básicos, não podem ser confiados.
Temos o exemplo relatado por Joseph Humires, especialista em segurança no hemisfério sul. Ele acompanhou o caso da China, agora em 2022, que instalou uma base militar na Argentina sem a autorização do país. As autoridades argentinas nada podem fazer devido ao controle sobre recursos e investimentos em infraestrutura que os chineses estão fazendo no país. Em outras palavras, deixar o controle de recursos estratégicos do país nas mãos de entidades antidemocráticas é deixar com eles o controle da vida da população. Isso ameaça liberdades individuais, direitos e deveres humanos e países podem acabar como a Argentina, submissos a ditaduras de outros países.
Concluindo, questões importantes de segurança e defesa estão fazendo líderes repensarem o ESG. Daqui para frente, questões como os investimentos em empresas de armas, a segurança energética e a escolha de parceiros deverão sofrer mudanças e melhorias.
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