Nacional

Você não vira CEO por causa da sustentabilidade, mas deixa de ser CEO por causa dela

*Por Heiko Hosomi Spitzeck / Diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral

Antes de assumir a liderança de uma empresa, é preciso fazer uma avaliação séria sobre riscos socioambientais existentes

Virar CEO é o grande sonho de muitos executivos. Nas minhas aulas de Sustentabilidade Corporativa no Executive MBA, tento me conectar com os sonhos, anseios e pressões organizacionais experimentadas pelos participantes. Várias pesquisas mostram o valor financeiro de uma boa gestão de temas socioambientais como escassez de água, consumo de energia, ética e transparência, entre outras. Mas não consigo mostrar que alguém virou CEO por causa da sustentabilidade.

Recentemente, no entando, ficou relativamente fácil mostrar que executivos deixam de ser CEOs por causa da sustentabilidade. Um dos casos mais emblemáticos é o de Tony Hayward. Ele era CEO da BP quando, no dia 20 de abril de 2010, uma explosão aconteceu na plataforma de petróleo chamada Deepwater Horizon, matando 11 pessoas e causando um vazamento significante de petróleo. Em 18 de maio, em nome da BP, Hayward anunciou que se tratava de um vazamento pequeno. Mais tarde, no dia 27 de maio, usou a terminologia “catástrofe ambiental”. Três dias depois, comentou com um jornalista que ele “queria sua vida de volta”. O valor da ação da BP na bolsa de Londres caiu de GBP 641,80, no dia 16 de abril de 2010, a GBP 322,00, no dia 2 de julho do mesmo ano. Desde então, o valor nunca mais superou GPB 600,00. No dia 27 de julho, a BP anunciou que Hayward seria substituído por Bob Dudley. Hayward teria vida de volta!

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O dia 5 de novembro de 2015 é um dia inesquecível para Ricardo Vescovi, ex-CEO da Samarco. O rompimento da barragem do Fundão causou o maior desastre ambiental da história brasileira até então. Ricardo Vescovi e vários Conselheiros da Samarco foram indiciados por crime ambiental – a legislação prevê para estes casos penas como reclusão de um a quatro anos. Como consequência do desastre, o governo suspendeu as atividades da empresa. 

Martin Winterkorn era CEO da Volkswagen até 23 de setembro de 2015. Em nome da empresa, ele se desculpou (com muito atraso) por usar software que fraudava a medição de emissões nos carros movidos a diesel, com o objetivo de atender os limites estabelecidos pelas legislações europeia e americana. Ele foi indiciado por fraude e ouviu do procurador geral dos Estados Unidos: “Se você quer enganar os Estados Unidos, pagará caro por isso”. Os custos totais para a empresa, referentes a multas, perda de valor de veículos e compensações para proprietários de carros movidos a diesel somaram mais de R$ 70 bilhões. A gestão da crise foi criticada seriamente pela imprensa alemã, que atribuiu os erros principalmente à cultura da liderança e à incompetência do Conselho de Administração.

Existem vários outros casos nacionais e internacionais. Aldemir Bendine, CEO da Petrobras até a Lava Jato, Klaus-Christian Kleinfeld, CEO da Siemens até o escândalo de corrupção em 2006/2007 etc. Alguns de vocês poderiam complementar: Fabio Schvartsman, CEO da Vale até o rompimento da barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho.

E a moral da história? Em todos os casos citados, encontra-se: falta de gestão de riscos socioambientais, comunicação desastrosa durante a crise e CEOs e conselheiros despreparados , fora de sintonia com o que a sociedade espera deles.

Assim, se você está avançando na sua carreira, e pode chegar a ser convidado para ocupar o cargo de CEO ou conselheiro de uma empresa, faça uma avaliação séria sobre os riscos socioambientais existentes. Verifique a qualidade da comunicação em momentos de crise e a qualificação da diretoria e do Conselho de Administração para tratar desses temas de forma estruturada. Porque os CEOs mencionados acima enfrentaram derrotas profissionais, financeiras e pessoais. A sociedade atribui a eles um legado negativo, que não necessariamente foram eles que construíram. Por isso, antes de aceitar o convite, pergunte a si mesmo: qual legado quero deixar, e qual legado vou herdar?

Fonte: Época Negócios.

*As opiniões veiculadas nos artigos de colunistas e membros não refletem necessariamente a opinião do GREEN BUSINESS POST.

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Lenah Sakai

Ex-atleta, green fellow (vegetariana, minimalista), trabalhando duro para tornar as organizações, os maiores impactadores do planeta, mais responsáveis. Formada em administração pela PUC-SP, há +10 anos atua em negócios e sustentabilidade. Fundadora do Green Business Post, co-fundadora da Ignitions Inc., do movimento Cultura Empreendedora, do DIRIAS, 1ª associação de direito digital do Brasil e da ABICANN, 1ª associação das indústrias de cannabis do Brasil. Hoje é gestora de uma rede de 5 milhões de pessoas do ecossistema empreendedor nacional e internacional.

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