Amazônia abriga mais de 2.500 garimpos ilegais

Desses, 453 estão no Brasil. Novo relatório mostra as consequências diretas e indiretas do problema

Garimpo não é crime. É possível ser garimpeiro no território brasileiro – e lucrar extraindo minerais como ouro (ou diamante, ou columbita, ou cassiterita… a lista é longa) – sem colocar nenhum dedo fora da lei. Para isso, é claro, é preciso seguir algumas regras, todas resumidas em um documento especial, chamado Estatuto do Garimpeiro. Ele exige que todo garimpeiro se registre, mesmo que trabalhe sozinho ou com uma cooperativa, e que o trabalho só seja feito em áreas previamente aprovadas para extração.

Não é um pedaço pequeno de terra. São mais 500 mil hectares espalhados em 10 estados: Amazonas, Amapá, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rondônia e Tocantins. Chega perto da área da cidade de Toronto, no Canadá, inteirinha.

Ainda assim, não é segredo de que existe garimpo ilegal no Brasil – onde existe alguém disposto a fazer algo direitinho, existe uma bela dúzia de gente pulando etapas. O que pode ser surpresa para você são as dimensões extremas do garimpo ilícito – e as consequências drásticas que ele pode trazer à natureza.

A Raisg (Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada) lançou um especial chamado Amazônia Saqueada. Cheio de mapas interativos, ele é fruto de um relatório que traçou, milimetricamente, as rotas de entrada e saída da mineração na Amazônia, e dos rios que são diretamente afetados por ela.

Contando todos os países que abrigam a Amazônia (são 6: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela), existem 2.557 regiões ilegais de garimpo e extração de minerais. Os números são resultado de análises de imagens de satélite, da coleta de notícias sobre desmatamento em todos os 6 países e de notificações de comunidades ribeirinhas e indígenas. Mas os especialistas acreditam que os resultados subestimam um número ainda mais de pontos de exploração não confirmados. Ou seja: o problema já parece ruim, e a realidade pode ser ainda pior.

O relatório, aliás, diferencia “pontos” e “áreas” de garimpo. Uma área é uma região já expandida de mineração ilegal – cujas dimensões aparecem demarcadas nos mapas interativos. A maioria dos registros, no entanto, são pontuais, de garimpos menores. O problema é que, na maioria dos casos, um ponto não fiscalizado tende a se tornar uma grande área de exploração com o passar do tempo.

De todos, as áreas e pontos mapeados, a maioria está na Venezuela (1899), depois no Brasil (453), Peru (134) e Equador (68). A área com a mais profunda degradação causada por garimpos de ouro é Madre de Dios, no Peru, mas a região do rio Tapajós, aqui no Brasil, se mostra como um polo importante de casos ilegais.

Maurício Torres, doutor em geografia pela USP e, atualmente, professor na Universidade Federal do Pará, disse à Folha de S.Paulo que a exploração nessa região brasileira começou no final da década de 1950, mas os problemas mais graves decorrentes dessa atividade são mais recentes.

Prejuízos diretos: agressão à floresta

O grande problema do garimpo ilegal é que ele vai ficando progressivamente mais prejudicial. Em Tapajós, por exemplo. Conforme o ouro superficial foi ficando mais raro, explorado lá atrás, pelos primeiros garimpeiros, os recém-chegados foram apelando para táticas mais drásticas.

As mangueiras bico-jato, por exemplo, usam água pressurizada para desmontar barrancos naturais. A lama resultante é filtrada em busca de ouro. Resultado? A prática produz grandes crateras artificiais, destrói a vegetação e prejudica toda a dinâmica orgânica da floresta.

Em 2008, de acordo com Torres e a Folha, a situação piora drasticamente: as gigantes retroescavadeiras hidráulicas (PCs) chegaram dentro da floresta. “A grande transformação da região ocorreu com a chegada das PCs. Elas geram um impacto ambiental insano. Eu arriscaria dizer que a alteração da cobertura florestal foi maior nos últimos 10 anos do que nos 50 anteriores”, explicou o geógrafo à Folha.

Fonte: Super Interessante.

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Lenah Sakai

Fundadora e editora do Green Business Post, atua com sustentabilidade empresarial desde 2013. Se tornou vegetaria para combater a banalização da vida e adotou o minimalismo para o consumo consciente e foco em SER e FAZER em detrimento de TER e MANTER. Por considerar a geração de renda o melhor impacto social ao combater a pobreza e a criação de soluções da sociedade para a sociedade o impacto mais eficiente, contribuiu com a fundação do(a): movimento Cultura Empreendedora, holding de startups Ignitions inc., Angel Investors League, DIRIAS - 1ª associação de direito digital do Brasil e ABICANN - 1ª associação das indústrias de cannabis do Brasil.

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