Sistemas agroflorestais mecanizados levam sustentabilidade à área rural
Confira como foi a implantação de projeto-piloto de sistema agroflorestal coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente
Por Agência Brasília | 17 jan 2020
“Minha filha, isso aqui é trabalho. Mas quando você vê as coisas assim, tão bonitas, até esquece.” A frase é de Ilnéia Alves Rocha Barros, que falava enquanto mostrava os cultivos na propriedade rural que toca com o marido, Claudionor Rocha, no Assentamento Gabriel Monteiro, na Bacia do Descoberto (Brazlândia).
Desde o ano passado o casal faz parte também do projeto-piloto Sistemas Agroflorestais (SAF) Mecanizados, implantado nas bacias do Paranoá e do Descoberto sob a coordenação da Secretaria do Meio Ambiente (Sema). A iniciativa tem como meta contribuir com a segurança hídrica do Distrito Federal.
De acordo com o titular da pasta, Sarney filho, os SAFs protegem a terra e os mananciais. “Trata-se de uma estratégia promissora para conversão dos agricultores para uma agricultura mais sustentável, que associe geração de renda com recuperação da capacidade de produzir água”, afirmou.
Os SAF’s conciliam floresta e agricultura com manutenção de produção e recuperação de áreas degradadas, bem como permitem a recuperação da fertilidade do solo. Idealizado para o uso intensivo da mão de obra familiar, os sistemas agroflorestais são mais saudáveis e permitem que as colheitas se sucedam por todo o ano, sem prejuízo para o solo.
Na propriedade de 5 hectares, Néia e Claudionor investem em banana e em produtos processados, como a farinha e os chamados chips, que vende todo sábado em feiras orgânicas como a que existe na SQN 216 (Asa Norte). Pelo SAF o casal recebeu mudas, adubo, sementes e o apoio de mecanização especializada, por meio de implemento adaptado para a atividade. O último plantio foi realizado em dezembro e, agora, Néia acompanha a produção, fazendo o manejo do solo. Tudo com muita atenção e cuidado.
A implantação dos SAFs mecanizados no DF é realizada no âmbito do Projeto CITInova – Planejamento Integrado e Tecnologias para Cidades Sustentáveis, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), financiado pelo Global Environment Facility (GEF), em parceria da ONU Meio Ambiente, Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), Programa Cidades Sustentáveis (PCS) e Agência Recife para Inovação e Estratégia (Aries).
Pioneira
Aos 60 anos, Néia, que é natural de Mato Grosso, conta que não poderia estar mais feliz. Lidar com a terra foi uma escolha, já que estava cansada de não ter qualidade de vida. Ela veio para o Distrito Federal com mãe e irmãos, atraídos que foram pelas oportunidades da época da construção de Brasília.
“Minha mamãe queria conquistar alguma coisa para a gente. E conquistou para a sobrevivência. Trabalhou como costureira, passadeira, plantadora de grama. Foi ela quem conseguiu uma bolsa de estudos para um dos filhos, eu”, relembra. Com o benefício, ela estudou até o quarto ano e passou a trabalhar como cabeleireira.
Mas tarde, já casada, começou a prestar mais atenção no trabalho do marido, o marceneiro Claudionor, que também atuava com questões da terra. “Eu não sabia o que era. Mas, quando descobri, me apaixonei e decidi mudar de vida e lutar também com a terra”, acrescenta. Eles saíram da Ceilândia para o assentamento buscando uma vida com mais sentido.
Emater
Já instalados na propriedade, Néia e Claudionor tiveram o impacto de ver que o trabalho realizado no primeiro plantio não deu resultado. “Não nascia nada”, recorda. Foi então que descobriram que a área era usada antes para o plantio de soja e estava devastada pelo uso intensivo de agrotóxico.
Apoiados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater), o casal fez análise de solo, que confirmou a pobreza nutricional da área, e passou a atuar para recuperá-lo. Plantaram feijão-de-porco, guandu. “Agora, não está 100% ainda, mas já chega a uns 80%”, conta.
A implantação do SAF por meio do projeto coordenado pela Sema foi outra feliz descoberta. “É bom demais. Muita coisa eu não sabia. Os antigos tinham outro jeito de manejar a terra. A gente vai evoluindo”, comemora. A propriedade dos dois tem hortaliças, limão, laranja, banana, maracujá, café, milho, criação de porco, galinha e peixe.
Trabalho em família
Com 42 anos de casados, o casal se desdobra para dar conta de tudo. Néia explica que é difícil arrumar mão de obra para a lida na terra. Em época de mais trabalho, como no plantio e na colheita, ela recebe ajuda dos filhos e de outros familiares. No mais, os dois se revezam para realizar o manejo da produção. Claudionor também é sempre chamado para construir ou colaborar com construções em adobe, técnica na qual é mestre, e também para participar de espaços de discussão.
“Deixa isso para os mais jovens”, aconselha Néia, preocupada com o tanto de trabalho que eles têm dentro da propriedade.
A rotina deles começa cedo. Ela conta que, às 5h da manhã, o marido já está assistindo ao telejornal e depois prepara o café. “Ele é ótimo marido, pai, companheiro. Se fosse para casar hoje de novo, eu casaria. Não conto a ele para não dar ousadia”, diverte-se a agricultora.
“Com o SAF aprendi que água se planta”
Adriana Rocha, agricultora
Vaidosa e bem-humorada, ela se desculpa por não estar arrumada como deveria. Mas mesmo para a lida no campo, sob o sol forte, capricha na indumentária e enfatiza: “Sou feliz aqui. Gosto de mexer na terra, de sentir o cheiro, plantar. Também tenho o meu jardim, que cuido sempre que tenho tempo”.
Adriana Rocha, filha do casal, voltou há dois anos do Rio de Janeiro e já se uniu aos pais no trabalho como agricultora. Grávida de seis meses, ela e o companheiro, Moisés, planejam abrir uma casa de farinha na propriedade e intensificar o trabalho com agrofloresta. “Com o SAF aprendi que água se planta”, diz Adriana.
Etapas
A maioria dos agricultores contemplados pelo projeto do SAF Mecanizado é formada por mulheres, confirmando a tendência registrada pela Emater. Segundo o órgão, elas representam 38% dos produtores cadastrados no DF. Do universo de 46,2 mil beneficiários, 17.688 são mulheres.
Os participantes passam por capacitação, aprofundamento de conceitos, técnicas e prática, sempre recebendo assistência técnica. A escolha das propriedades e o apoio para os trabalhos de campo – fornecimento de maquinário, mudas e sementes – é realizada por meio de um Acordo de Cooperação Técnica entre a Sema, a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal (Seagri), a Emater e a Administração do Lago Norte.
* Com informações da Secretaria de Meio Ambiente
Fonte: Agência Brasília.