Agente da Guarda Municipal improvisa proteção para ninho de quero-queros na orla do Guaíba
Grades que ficaram sem serventia após liberação do espaço ao público, na terça-feira, foram usadas para proteger fêmea e quatro ovos de quero-queros
Por iniciativa de um agente da Guarda Municipal, um casal de quero-queros não terá o ninho destruído pelos usuários que voltaram a ocupar a orla do Guaíba, em Porto Alegre. Jairo Marobin, 52 anos, utilizou os gradis que antes bloqueavam o acesso ao local para cercar o espaço onde a fêmea choca quatro ovos.
Preocupado também com os cães que poderiam atravessar as grades, o servidor fortificou a estrutura com fitas reflexivas e cravou taquaras com pedaços de ferro ao solo. A ideia surgiu na última segunda-feira (7).
— Como o pessoal ia voltar para a Orla ontem (terça), eu instalei isso aqui. Eu já vi no ano passado os ninhos sumirem, cachorros correndo por cima, e até pessoas movendo o ninho. Não queria que acontecesse de novo — conta.
A proteção foi instalada entre a Usina do Gasômetro e a obra “Olhos Atentos”. Está a cerca de três metros da margem do Guaíba.
Os aparatos improvisados como viveiro estavam sem serventia, guardados em uma sala da Guarda Municipal, próximo às quadras de esporte da Orla.
Marobin diz ter aprendido a apreciar os pássaros no local onde foi criado, na área rural do município de Muçum, no Vale do Taquari. Aponta, entretanto, diferença entre os animais do Interior e os que passaram a ser cuidados por ele na Capital:
— Parece que eles já conhecem a gente. Estaciono a viatura, venho perto e eles (ficam) assim, tranquilos — diz.
Na manhã desta quarta-feira (9), período em que esteve junto ao servidor, a reportagem de GZH observou duas situações: enquanto o macho rondava o cercado, emitindo o canto tradicional contra quem se aproximava, a fêmea permaneceu deitada sobre os filhotes. Mesmo com a chuva que atingiu a Região Metropolitana nos últimos dias, ela não deixou os ovos desprotegidos, segundo Marobin.
O responsável pela segurança da Orla, Magno Forgiarini, 57 anos, elogia a iniciativa do colega.
— Notamos que durante as obras tinha muita vida animal, que, depois que se libera o uso, acabam sofrendo. O que ele fez foi excelente — avalia.
Na área, atuam também guardas-parques ligados à Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams), que auxiliam no controle da fauna e da flora. Consultado, o órgão disse ter sido comunicado sobre a atitude do servidor. É estudada a colocação de placas orientativas no entorno do ninho.
O movimento na Orla era bastante fraco ao meio-dia desta quarta-feira. Além de um grupo de cinco pessoas sentadas na grama, havia alguns corredores praticando exercícios.
O comerciante Claudionei Padilha da Silva, 58 anos, contemplava o lago, mantendo a distância dos pássaros. Mas não deixou de comentar o cerco improvisado.
— A ideia é ótima. Tem que proteger. Lá na praia tem muito — compara.
A estrutura deve ser mantida até a chegada dos filhotes. Segundo observou Marobin, haviam dois ovos em 22 de agosto. No dia 24, um novo filhote estava sendo chocado, e no dia 26, o quarto ovo pôde ser visto.
Fonte: Tiago Boff | Gaúchazh | 09 setembro 2020.